Os fornecedores de máquinas de injeção de plásticos voltaram a juntar-se a 7 de fevereiro, no Nerlei, Leiria, para a segunda edição do Estudo de Mercado de Máquinas de Injeção, organizado pela InterPlast. A iniciativa teve como principal objetivo entregar aos participantes uma análise exaustiva dos dados referentes às vendas do ano anterior.
Numa conjuntura instável como a que vivemos atualmente, conhecer dados concretos sobre o mercado de atuação ganha especial relevância para qualquer empresa, independentemente da sua dimensão.
No caso específico das empresas que vendem máquinas de injeção de plásticos em Portugal, conhecer parâmetros como o número total de vendas no ano anterior, o tamanho e tipo de máquinas vendidas, os setores de aplicação e as áreas geográficas com as taxas de vendas mais elevadas, pode ser uma grande ajuda para a definição da estratégia comercial de cada empresa. O estudo da InterPlast analisa estes dados tanto para máquinas novas como em segunda mão.
Este ano, a iniciativa contou com três novos aderentes. No total, participaram no estudo dez marcas, diretamente ou através de representante:
Para garantir a legitimidade dos resultados, os dados foram recolhidos de forma totalmente anónima. Após tratamento informático, os participantes tiveram acesso ao relatório final esquematizado, um documento confidencial apenas disponibilizado às empresas aderentes. Em comparação com o estudo realizado em 2022, referente a 2021, este ano foi possível obter um refinamento dos números no que se refere aos mercados de destino dos equipamentos.
Dos dados obtidos, é relevante concluir que, apesar de todas as condicionantes, 2022 superou as expectativas mais pessimistas.
Neste artigo, alguns dos participantes avaliam a evolução do setor da injeção de plásticos em Portugal e deixam as suas previsões para 2023.
No início de 2022, a maior parte das empresas do setor antevia um ano difícil, marcado pelos elevados preços das matérias-primas e dos transportes. A guerra na Ucrânia veio agravar ainda mais a situação, com os preços da energia a baterem recordes históricos. No entanto, em termos gerais, todos os entrevistados foram unânimes em afirmar que terminaram o ano com bons resultados, apesar das contrariedades macro-económicas e dos 'solavancos' da indústria automóvel.
Rui Folhadela, sócio-gerente da Folhadela Rebelo, recorda que muitos dos seus clientes tiveram dificuldade em fazer repercutir os aumentos no cliente final e que alguns fatores foram mais difíceis de contornar que outros. “É verdade que algumas matérias-primas foram recuando para valores mais aceitáveis em relação a 2021, mas as denominadas ‘técnicas’ pouco baixaram. Os transportes passaram a estar em constante atualização, senão mesmo indexados a variantes de calculo semanal. No entanto, na energia, algumas empresas conseguiram conter a subida exagerada de preços ao recontratar este serviço com outros fornecedores, com melhores condições”. O representante da KraussMaffei conclui que o conjunto destas três variáveis “obrigou muitas empresas a tomar decisões que levaram à diminuição da atividade.”
Por seu lado, Hugo Brito, diretor geral da Equipack, refere a inflação como principal causa da diminuição da produção: "Acredito que, se as empresas tivessem encomendas, não seria o preço dos custos de produção que as impediria de produzir. Acho que o aumento do custo de vida levou a uma retração no consumo, e, consequentemente, a uma menor necessidade de peças de plástico”.
Já Tiago Coelho, gerente da Augusto Guimarães & Irmão, volta a colocar o preço da energia no centro da equação, por ter afetado não só os transformadores como os próprios fabricantes de matérias-primas, impedindo a baixa generalizada dos preços das matérias-primas, “apesar de ter havido maior disponibilidade de materiais".
O representante das máquinas de injeção da Fanuc considera que “a energia é um recurso que a indústria, em geral, não só a dos plásticos, terá de aprender a utilizar de forma mais eficiente. A alta eficiência da tecnologia mais moderna abre possibilidades para que este nosso setor se possa afirmar como altamente eficiente na utilização deste recurso. Para além da poupança económica, o setor dos plásticos tem a oportunidade de demonstrar que é muito mais amigo do ambiente quando comparado com outros setores industriais que fazem um uso muito mais intensivo da energia”.
Em contracorrente, Jorge Júlio, diretor geral da Inautom, assegura não ter notado qualquer diminuição da atividade dos seus clientes até porque, salienta, “em 2022 aumentámos o número de máquinas vendidas”.
Condicionadas pela falta de componentes eletrónicos no mercado, todos os fornecedores se viram obrigados a dilatar os prazos de entrega. Uma ressalva para a Fanuc que, de acordo com Tiago Coelho, “foi a que menos sofreu com este constrangimento por fabricar internamente os sistemas de base eletrónica - servomotores, drivers e CNC’s - da sua gama Roboshot”.
No caso da Engel, representada pela Equipack, esse aumento foi mais visível nos robôs e nas peças de substituição do que nas máquinas. Hugo Brito garante, no entanto, que neste momento "a situação já está regularizada".
Já no caso da Husky, Arnaud Pellet, sales business manager da área de embalagem rígida da multinacional canadiada, acredita que essa regularização aconteça em meados de 2023.
Na Wittmann, “este problema tem vindo a ser minimizado, mas ainda se sente alguma dificuldade em alguns produtos”, afirma Rui Fonseca, gerente da Tecnofrias, representante da marca em Portugal.
Após dois anos de pandemia, a K 2022 era muito aguardada pelos profissionais do setor. Os participantes no Estudo de Mercado foram unânimes em referir o bom ambiente vivido durante o certame, muito focado na economia circular, na digitalização e na eficiência energética.
Para a AGI, esta foi uma edição histórica, já que, pela primeira vez, participou com um stand de marca própria integrado no espaço do sócio Hromatka. "Ao nível das tecnologias presentes, seguiu-se muito a linha de desenvolvimento previamente traçada", diz Tiago Coelho.
Rui Folhadela recorda que todas as representadas da Folhadela Rebelo tiveram em exposição "soluções para baixar os custos de produção, com demonstração de equipamentos desenhados para poupar energia ou eliminar etapas de fabrico", bem como novas tecnologias para a integração de reciclado em novos proutos.
Na mesma linha, as representadas da Tecnofrias levaram à feira "soluções para minimizar os efeitos da crise, principalmente a nível da redução do consumo energético e utilização de energias renováveis".
Já a Engel centrou-se nas soluções para a indústria 4.0, como os softwares de ajuda à produção, desenvolvidos para facilitar a vida aos nossos clientes da injeção. "Existe uma crescente falta de mão de obra qualificada na indústria e estas ferramentas, como o iQ weigh control, o iQ plan control, o iQ flow control ou o iQ process observer otimizam a produção em diversos pontos, de forma automática, colmatando assim essa falha", salienta Hugo Brito.
A representada da Inautom, Tederic, apresentou uma nova máquina de injeção multicamadas com prato de rotação do molde central que, de acordo com Jorge Júlio "pode ser considerada uma inovação".
O controlo dos custos de produção é, sem dúvida, a grande necessidade da indústria de injeção de plásticos. Neste sentido, tanto a Equipack como a Folhadela Rebelo antecipam que, no decorrer deste ano, os seus clientes optem por trocar equipamentos antigos, pouco eficientes, por novos.
Como diz Hugo Brito, "durante os últimos cinco ou seis anos, os transformadores portugueses investiram muito em aumentos de capacidade, ao ponto de, neste momento, termos um excesso de máquinas no mercado. Acredito que, nos próximos anos, com a ajuda do Portugal 2030, as empresas vão apostar antes na renovação do parque de máquinas, substituindo as mais antigas por novas, energeticamente mais eficientes e com tecnologia instalada que lhes permita dar resposta a projetos cada vez mais complexos".
Por outro lado, Tiago Coelho espera "que a indústria automóvel possa voltar a um fluxo de trabalho mais regular" e que o papel dos plásticos na transição energética mude finalmente a imagem do setor junto da opinião pública e do poder político. Uma nota final para o desafio dos resíduos que, na sua opinião, deveria de ser abordado com mais seriedade, para evitar "a confusão promovida por interesses económicos de outros setores".
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