BA11 - Agriterra

60 CEREAIS O responsável da ANPROMIS vai mais longe e afirma que, aparentemente, os responsáveis políticos ainda não se aperceberamdesta situação e das suas consequências, nomeadamente o facto de pôr em causa a nossa soberania alimentar. Porque pode acontecer que “o milho não chegue” ao mercado europeu, sendoque “não temosmecanismos internos para garantir minimamente” a soberania alimentar. A agravar “cada vez temos mais restrições, cada vez os entraves à produção são maiores”. DESAFIOS A ULTRAPASSAR É certo que, como reconhece o técnico da CONFAGRI, a “cultura do milho é tecnicamente muito exigente”. Hoje os produtores necessitam de recolher todo um conjunto de dados por forma a tomarem as melhores decisões no que concerne a matérias como a rega, fertilização, tratamentos, etc. Só assim, aponta Domingos Godinho, poderão minimizar os custos com a cultura e o seu impacto ambiental. “A utilização dos meios digitais para obter dados que suportem as decisões e o apoio técnico, que deverão preferencialmente ser obtidos na cooperativa da qual o produtor é associado, são decisivos. A comercialização do milho através da cooperativa também é fundamental para melhorar a colocação no mercado da produção”, acrescenta. Firmino Cordeiro faz uma avaliação mais macro da situação. O responsável da AJAP lembra que, em Portugal, o milho é, destacadamente, a principal cultura arvense, ocupando cerca de 115 mil hectares, ou seja, quase 40% da área nacional dedicada àquelas culturas. Ou seja, “incontestável a sua importância na economia nacional e regional e na coesão e no desenvolvimento do território, nomeadamente num Interior cada vez mais desertificado”. Mas o responsável também aponta as vulnerabilidades associadas às políticas de total dependência do livre comércio mundial. Nomeadamente as crises cerealíferas de 2007, de 2012 e, presentemente, o novo choque de preços provocado pela abrupta intervenção da China nos mercados. E quanto a Portugal? “O nosso País possui condições de produção extremamente favoráveis para a produção de milho, encontrando-se os produtores nacionais de milho entre os mais produtivos à escalamundial. Nenhuma outra grande cultura consegue, nas nossas condições de produção, obter performances ao nível das que conseguimos com o milho”. Algo a ter em conta, acrescenta, principalmente numa altura em que surgem novas áreas de regadio. Nomeadamente o perímetro de rega de Alqueva, cujas áreas infraestruturadas rondam atualmente os 67 mil hectares. “O milho afigura-se como a única cultura capaz de, em extensão, vir a ocupar uma parte significativa desta nova área contribuindo, desta forma, para o aumento do nosso grau de autoabastecimento emmilho”, afirma o responsável da AJAP, que acrescenta que “além da existência de alguma disponibilidade hídrica no Alentejo, em face do Alqueva, devíamos rever o Plano Nacional de Regadio, ambicionando novas mega infraestruturas de regadio, uma vez que a água é muito limitativa ao desenvolvimento desta cultura”. Há ainda um outro ponto essencial para Firmino Cordeiro: os custos de produção, nomeadamente eletricidade, combustíveis, fertilizantes e pesticidas, não deviam ser superiores aos restantes parceiros europeus. Na opinião de Jorge Durão Neves, a agricultura luta contra dois fenómenos no geral: as alterações climáticas – problema ainda maior que a urbanização (e com isso a perda de terreno produtivo) – e a gestão da água. “A agricultura (sustentável) só se faz com recurso ao regadio”, sendo que a gestão da água “tem sido um não problema para a Europa”. Quer isto dizer que “os países do sul da Europa lutam por uma realidade que não conhecem”, ou não conheciam até aqui. Isto porque, aponta o responsável da ANPROMIS, França atravessa uma seca terrível. Por outro lado, a quem acusa a agricultura de ser o principal gastador de água há que lembrar que há já muito tempo que o setor faz uma gestão racional da mesma – a rega gota a gota é apenas um exemplo – e, por outro lado, a agricultura, mais do que gastar água, dá utilização à mesma, produzindo alimentos. n

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx