BA14 - Agriterra

34 AGROINFLUENCERS gerar interações e um diálogo entusiástico com a comunidade que permita fidelizá-la. Isto, que tecnicamente e em inglês é conhecido como engagement, mede-se pelo número de “gostos” que a publicação do influenciador consegue, mas, acima de tudo, pelo número de comentários e pela qualidade destes. Neste sentido, uma investigação internacional liderada pela Universidade do Chile e recentemente tornada pública aponta sem rodeios: os comentários têm um poder de influência quatro ou cinco vezes maior do que os “gostos”. Mas embora a importância dos influenciadores no marketing seja bem conhecida e já tenha sido confirmada por inúmeros estudos científicos, a Integral Media alerta que “o mais importante é que as marcas contem com uma estratégia”, pois se a contratação de um influenciador não corresponder a uma estratégia e não estiver alinhada com esta, o esforço não valerá a pena. Em suma, é necessário estudar quem se contrata, porquê, se o perfil é o adequado para os objetivos da marca e se o canal e as mensagens a levarão efetivamente ao público pretendido e terão um impacto positivo sobre o mesmo. Não se trata apenas de uma questão de métricas. Trata-se de comunicação e tem a complexidade da comunicação. ENTRE OS FRAGMENTOS DE VIDA E A MONETIZAÇÃO E para que servem os agroinfluenciadores? Os consultados são claros: para mostrar a realidade da agricultura e da pecuária a toda a sociedade. Nesta linha está um dos mais populares, Tom Rohde, que, no entanto, afirma ter aderido às redes com o único objetivo de ler jornais. Um dia, porém, fez um comentário engraçado e foi aí que sentiu o bichinho de “dizer às pessoas o que faço”, que é cultivar oliveiras. Em publicidade, a estratégia criativa de mostrar histórias da vida quotidiana das pessoas é conhecida como “fragmentos de vida”. Mas enquanto na publicidade estas histórias são geralmente impostas e protagonizadas por atores, nas redes sociais agrícolas estão fortemente ligadas à realidade, porque são os próprios agricultores e criadores de gado que as contam e, além disso, fazem-no nos seus ambientes naturais e quotidianos, com o seu estilo pessoal, ao qual, aí sim, costumam dar um “toque”. O toque de Rohde é a piada bizarra, por vezes um pouco grosseira, que os seus seguidores gostam, claro, e que ele acredita não prejudicar a sua imagem. De facto, tem ofertas para trabalhar com marcas de roupa, bancos, azeite e muito mais, mas não se quer comprometer com nenhuma, porque todas têm algum inconveniente e ele prefere ser livre de expressar a sua opinião e dormir descansado sem enganar ninguém. Aceita participar em palestras e eventos, mas não cobra nada por isso. Contenta-se com o facto de as redes o ajudarem a vender cerca de 30 mil litros de azeite. É assim que ele monetiza a sua influência. Podia vender mais, mas esses são os trinta mil litros que tem daquele que mais gosta. Outro toque é a ironia, razão pela qual repete que não tem estudos e que é um labrego. Um labrego que, como qualquer agricultor, “tem de saber de tudo”. “Chamam-nos analfabetos, mas nós não chamamos analfabetos alimentares aos outros”, defende-se. Por seu lado, Lorena Guerra é considerada pela maioria como a agroinfluenciadora que melhor soube monetizar a sua presença nas redes. Está no Instagram há quatro anos, onde tem mais de 34 mil seguidores muito fiéis, com os quais mantém uma grande interação. Também aderiu às redes para contar o seu dia a dia e tornar o mundo rural e as mulheres rurais mais visíveis. Cultiva principalmente cereais, mas também oliveiras e, ocasionalmente, girassol e colza. É apaixonada por maquinaria, sobre a qual ensina muito, e o seu toque é a empatia e a naturalidade, bem como o estilo, ao ponto de ter criado a sua própria marca de roupa, à qual lamenta não poder dedicar tanto tempo como gostaria. Diz que nunca contacta as marcas, mas que estas é que a contactam, o que lhe permitiu colaborar com um bom número delas. As publicações desta jovem agricultora são profissionais (raramente conta algo pessoal) e chegam ao ponto de ter criado um serviço gratuito de compra e venda que os seus seguidores podem utilizar todas as segundas-feiras. Sem dúvida, uma boa forma de fidelizar e criar “engagement”. DA REDE E DA POLÍTICA Na legislatura que acaba de começar em Espanha, Lorena Guerra ocupará Tom Rohde aceita participar em palestras e eventos, mas não cobra nada por isso. Contenta-se com o facto de as redes o ajudarem a vender cerca de 30 mil litros de azeite. É assim que ele monetiza a sua influência

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