DOSSIER AGRICULTURA DE PRECISÃO 43 INTRODUÇÃO Num mundo em rápida mudança, em que o crescimento populacional, as alterações climáticas e a perda de terras aráveis ameaçam o abastecimento alimentar global (Martindale, 2014), a robotização surge como uma das respostas mais promissoras a estes desafios. A adoção de robôs na agricultura tem o potencial de melhorar a precisão e a eficiência em várias operações agrícolas, desde a plantação e o cultivo até à colheita. Estes avanços na robotização podem reduzir significativamente a dependência da mão de obra, fornecer soluções personalizadas para desafios específicos das culturas e melhorar a rentabilidade e a sustentabilidade globais do sistema agrícola. A robotização não só permite uma gestão mais precisa dos recursos, como também facilita a deteção precoce de doenças e pragas, otimizando assim os tratamentos e reduzindo a necessidade de pesticidas e outros produtos químicos, por exemplo através da geração de mapas de risco baseados em imagens aéreas (Vélez et al., 2023). Estas inovações não só beneficiarão a economia do setor, como também terão benefícios ambientais e sociais, minimizando os impactos negativos no ecossistema e garantindo alimentos mais saudáveis para os consumidores. O preço, a quantidade e a qualidade dos produtos agrícolas são afetados pelas políticas governamentais, mas também pelos efeitos em cascata das alterações climáticas nos agroecossistemas e na agricultura, que é o setor económico mais vulnerável às alterações dos padrões climáticos (Agência Europeia do Ambiente, 2019). As alterações climáticas modificam a fenologia da vinha, precipitando a maturação das uvas e alterando todo o metabolismo da planta (Mira de Orduña, 2010). Ao mesmo tempo, não só a videira, mas também as doenças associadas são significativamente influenciadas pelas flutuações das alterações climáticas. Estas variações climáticas têm impacto em três fatores cruciais para o desenvolvimento de doenças: a presença de agentes patogénicos, a suscetibilidade das plantas e um ambiente propício ao ciclo de vida dos agentes patogénicos (Burchett & Burchett, 2017), potencialmente potenciando os efeitos devastadores das pragas e doenças na agricultura. Neste contexto, a robotização poderá desempenhar um papel vital na adaptação e mitigação destes impactos, oferecendo soluções mais resilientes e sustentáveis. A indústria vitivinícola pode ser pioneira na adoção destas soluções e, de facto, já demonstrou um forte compromisso com a vanguarda tecnológica, fazendo progressos significativos na viticultura de precisão (Santesteban, 2019). Este progresso deve-se, em parte, à procura constante da mais alta qualidade do vinho e de margens económicas comparativamente elevadas em relação a outras culturas. Estes fatores proporcionam à viticultura o impulso financeiro e o impulso para se posicionar como um dos pioneiros na revolução robótica no sector agrícola. Para combater eficazmente as doenças, é essencial implementar uma monitorização detalhada das culturas com vários recursos. No entanto, as soluções atuais são frequentemente dispendiosas e, por vezes, inacessíveis quando é urgentemente necessário determinar e tratar as áreas afetadas. Assim, torna-se imperativo aproveitar as tecnologias modernas na agricultura, incluindo sensores, satélites, UAVs (veículos aéreos não tripulados) e UGVs (veículos terrestres não tripulados), para desenvolver uma robótica agrícola avançada que transforme não só a viticultura, mas toda a indústria agrícola, conduzindo-a para um futuro mais rentável, sustentável, eficiente e resiliente. OBJETIVOS Este trabalho tem como objetivo apresentar uma solução eficiente (em recursos, tempo e economia) baseada numa plataforma DSS (Decision Support System) para deteção precoce de doenças de culturas em grandes áreas agrícolas, combinando camadas espaciais de fontes heterogéneas, tais como sensores meteorológicos e IoT (Internet of Things), satélites, UAVs e UGVs. MATERIAIS E MÉTODOS Os ensaios de campo foram realizados numa vinha comercial em Terras Gauda (Tomiño, Galiza, Espanha) em 2021, 2022 e 2023, no âmbito do projeto europeu H2020 FLEXIGROBOTS. A SERESCO foi responsável pela rede de sensores terrestres e pela plataforma
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