BA2 - Agriterra

23 à mortalidade das árvores. Isto é extremamente preocupante, mas não vejo grande preocupação das entidades oficiais. A importância do montado não advém só da pro- dução de cortiça mas, principalmente, por ser um ‘seguro’ contra a desertificação e se continuar esta mortalidade de sobreiros, a tendência para a deser- tificação vai aumentar, e muito. Alertar o Governo para a urgência de defender o montado como única barreira de travar o avanço do deserto para norte é precisamente o objetivo da Iniciativa Pró-Montado Alentejo (IPMAlentejo), lançada em 2018. Sim, os promotores da IPMAlentejo também fala- ram comigo. Pois, é uma iniciativa que junta especialistas, ambientalistas, produtores e autarcas... O facto é que com a menor precipitação não há recarga de água em profundidade. Os sobreiros e as azinheiras, normalmente, conseguem man- ter-se porque as suas raízes vão muito fundas no terreno, mas se houver muitos anos de seca isso já não é possível. No passado havia três anos de seca, mas depois cinco anos com precipitação normal, mas agora já não é assim. Temos dois anos de seca, depois um ano ou dois depois, mais anos de seca, há realmente uma diminuição da precipitação e as árvores têm memória. Esta situação debilita as árvores, que ficam em stress e mais vulneráveis a vários tipos de doenças. Por cá não vejo qualquer ação, mas em Espanha, preocupados com a alimentação do porco ibérico, um setor fundamental, já estão a tentar fazer uma modificação genética da azinheira para a adaptar a temperaturas ainda mais quentes, que se espe- ram com as AC. Além do montado, considera que também seria importante adaptar melhor a nossa restante flo- resta às AC? Claro que sim. Acho preocupante aquilo a que assisti- mos no resto do País. Fiz parte do Observatório Técnico Independente (OTI) da Assembleia da República para os fogos florestais que, aliás, brevemente vai terminar. Durou durante dois anos e agora vai ser descontinuado. Fizemos vários pareceres e, por exemplo, em relação à reflorestação do Pinhal de Leiria – onde cerca de 80% desapareceu, ardeu – e a outras zonas, não vejo as pessoas responsáveis por estes planos de reflo- restação terem em conta as Alterações Climáticas. C M Y CM MY CY CMY K

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