BA2 - Agriterra

ENTREVISTA | ALTERAÇÕES CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA 24 Porque quando plantamos uma árvore temos de pensar no seu ciclo de vida, que são, pelo menos, 50 anos, ou mais. São, portanto, árvores que vão viver em períodos ainda afetados pelas AC. O mundo está a começar a fazer esforços no sentido de cumprir o Acordo de Paris, há vários sinais positivos, mas é pouco provável que se consiga ficar abaixo dos dois graus. É, assim, previsível que as Alterações Climáticas ainda durem várias décadas, por isso, penso que era preciso haver maior preocupação quando se faz essa refloresta- ção e ver quais as espécies mais adequadas. O País beneficiaria muito se houvesse uma política proa- tiva de florestação, como aliás, outros países estão a ter. Tem-se falado muito da influência da produção intensiva de gado, nomeadamente, gado bovino nas emissões. Tem noção do peso que a agricultura tem nos GEE? E dentro da agricultura qual a ‘contribui- ção’ do gado bovino? Em Portugal penso que a contribuição da agricultura anda na ordem dos 20%. A agricultura é um dos setores onde é mais difícil diminuir as emissões. Por duas razões: uma devido às emissões de dióxido nitroso e outra às emissões de metano. Mas importa frisar que as fontes de metano em parte são naturais. E as que não são vêm, por exemplo, dos aterros sanitários, em que há uma combustão e, por- tanto, emite metano. Vem também dos arrozais, embora Portugal não tenha uma grande superfície… Portanto, a ‘contribuição’ da fermentação entérica do gado bovino e ovino e caprino é, realmente, uma contribuição impor- tante, mas, enfim, há outras. n O montado em Portugal está a perder anualmente cerca de 5.000 hectares, devido à mortalidade das árvores. Isto é extremamente preocupante, mas não vejo grande preocupação das entidades oficiais. Foto: Ana Clara NOTA BIOGRÁFICA Filipe Duarte Santos é professor catedrático jubilado de Física na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa e um dos nossos maiores especialistas em alterações climáticas. Entre muitas outras atribuições, foi nomeado coorde- nador do Grupo de Trabalho que elaborou o primeiro Livro Branco sobre o Estado do Ambiente emPortugal, publicado em 1991. Integra o Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CNADS) desde 1998, o qual preside desde março de 2017.

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