BA3 - Agriterra
FITOSSANIDADE 41 Imagem 1. Instantâneos de diferentes paisagens na região de Montilla-Moriles, Espanha. A imagem à esquerda é caraterizada por uma monocultura de vinhas com pouca ou nenhuma vegetação natural. A imagem à direita mostra uma paisagemmais diversificada em que várias culturas são intercaladas com áreas de vegetação natural. Fotos: Consejo Regulador DOP Montilla-Moriles. No entanto, este sistema é altamente dependente de produtos fitossanitá- rios, que têm de ser utilizados todos os anos e em grandes doses para controlar pragas, com consequências negativas para a saúde das pessoas e dos ecossistemas. Por outro lado, existe um sistema mais heterogéneo. Um sistema que mantém a vegetação natural e promove diversas culturas na paisagem. Este último sistema tem mais custos de produção associados à gestão, mas depende menos dos produtos fitofarmacêuticos devido à promoção de processos naturais de regulação dos ecossistemas, ou seja, a promoção do controlo de pragas biológicas. Contudo, os benefícios da promo- ção de habitats naturais à escala da paisagem podem não ser facilmente reconhecidos pelos agricultores. As populações de pragas e inimigos natu- rais flutuam dependendo de fatores tais como temperatura, humidade, etc. Isto pode resultar, em alguns anos, numa sincronia natural entre preda- dores e pragas que permite o controlo de pragas. Pelo contrário, noutros anos esta sincronia não irá ocorrer ou as populações de inimigos naturais não serão suficientemente grandes para controlar a praga. Por conseguinte, a eficácia deste método varia depen- dendo de muitos fatores para além do controlo dos agricultores que nos impedem de ver os potenciais bene- fícios que as estratégias de promoção do habitat natural a nível da paisagem podem ter. GESTÃO INTEGRADADA LOBESIA BOTRANA A eficácia destes métodos é facilmente reconhecida em sistemas integrados de gestão de pragas onde as popula- ções de pragas sãomonitorizadas para determinar os tempos ótimos para o tratamento químico de pesticidas. Estes 'momentos' são estabelecidos com base em limiares de danos económicos e são definidos como a quantidade de praga acima da qual o custo do tratamento químico é inferior à perda da cultura que irá ocorrer. Nestes sistemas, a probabilidade de ultrapassar esse limiar pode ser asso- ciada à proporção de habitat natural que existe na paisagem em redor do ponto de monitorização, bem como à proporção da própria cultura, o que daria uma ideia da simplicidade da paisagem. Novas investigações descobriram que as vinhas integradas em paisagens homogeneizadas, também chama- das monoculturas, sofremmais surtos de pragas e consequentemente são necessários mais tratamentos químicos com insecticidas (Paredes et al., 2021). Especificamente, esta investigação centra-se na traça da videira, Lobesia botrana , uma praga que afeta toda a Europa. As larvas da primeira geração, embora menores em abundância, destroem os botões das flores e as flores da videira. À medida que a praga se desenvolve, a segunda e terceira gerações atacam os frutos da videira, produzindo nesta fase as maiores perdas económicas. Além disso, aos danos diretos causados à fruta, há danos indiretos sob a forma de infeções fúngicas que apodrecem os cachos coma consequente redução da qualidade do produto final, seja vinho ou uvas de mesa. Especificamente, este trabalho des- cobriu que os ataques da traça das videiras eram quatro vezes mais fre- quentes em paisagens simplificadas só de vinhas do que em paisagens diversificadas, onde outras culturas e vegetação natural formam uma parte considerável da paisagem. O estudo foi realizado em vinhas sob um regime de produção integrada, pelo que os tratamentos químicos estão sujeitos a exceder certos limiares de tratamento. Por estas razões, o uso de pesticidas estava fortemente relacionado com os ataques das traças das videiras
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