BA4 - Agriterra

ENTREVISTA 16 menos rentáveis têm de ter algum apoio público ou então serempagos pelos outros benefícios que trazem, para além da pro- dutividade das suas culturas. E o setor tem feito um bom trabalho no sentido de promover os cereais nacionais. Veja-se o exemplo damarca ‘Cereais do Alentejo’. Sim, e não podemos esquecer que ao consumirmos cereais nacionais a pegada ecológica também é muito menor ao comprarmos cereais de proximidade. Para além de que já foi amplamente reconhecido que a qualidade é ótima. E, como disse, o setor tem vindo a fazer o seu traba- lho: principalmente através do Clube de Produtores de Cereais de Qualidade, que foi criado há 22 anos e tem vindo a desenvolver uma série de iniciativas, começando pelo estudo para a elaboração da Lista de Variedade Recomendadas (LVR), depois criou-se uma formação técnica para a produção de cereais de outono-inverno, no sentido de otimizar e gerir as parcelas de acordo com o seu potencial produtivo e, mais recentemente, foi lançada a marca ‘Cereais do Alentejo’. Não esquecendo a Agenda de Inovação, com a criação do Centro de Competências dos Cereais, o CEREALTECH, tudo tem vindo a ser desenvolvido de uma forma muito equilibrada, envolvendo todos os agentes da fileira e, do meu ponto de vista, hoje podemos dizer que o trabalho que a fileira dos cereais tem desenvolvido é um exemplo que se pode replicar para outro tipo de produtos. Voltando ao sequeiro, considera que o caminho para rentabilizar estas áreas é a aposta em sistemas agro-silvo-pastoris? Exato. Muitas das nossas áreas de sequeiro têmmontado e há também com árvores dispersas ou terra limpa e, nelas, os cereais são uma peça indispensável. Estamos a falar principalmente de cereais secundários, como tri- ticale e aveias, que é o que se faz mais no sequeiro, no contexto destes sistemas agro-silvo-pastoris. Para além disso, há os trigos, que sempre se fizeram e continuam a fazer, embora em áreas mais reduzidas por- que em grande parte destas zonas de sequeiro os solos eram de tal forma pobres e com muito fracas capaci- dades produtivas que acabaram por ser ocupados por pastagens permanentes. O que ficou agora no sequeiro de terra arável, para fazer este tipo de cereais, foram as terras que eram melhores. Por isso, e pelas variedades mais produtivas que temos, conseguimos hoje produti- vidades mais elevadas do que há anos atrás. Dequeprodutividades estamos a falar? Podem rondar os 3.000 ou até 4.000 Kgs/ ha. Temos um projeto, que começou em 2012/2013 em Castro Verde, na zona do Campo Branco, de solos muito pobres em matéria orgânica, phumpouco ácido, zonas desprovidas de vegetação arbórea e arbus- tiva, solos de facto commuitas limitações, e temos produtividades de triticale – que é o cereal que, claramente, estámais adaptado àqueles condicionamentos ecológicos – na ordemdos 4.000 a 4.500 kgs/ha, comum potencial muito elevado. Por isso, defendo que os cereais são uma peça que não vai poder ser retirada deste tipo de sistemas. Para alimentação animal? Sim, na sua grande maioria, embora a indústria também utilize, numa determinada percentagem, farinha de triti- cale para fazer o chamado ‘pão de mistura’ sendo, todavia, mais comum e mais rentável o uso do centeio, que é um cereal panificável. Só que hoje em dia são valorizados os produtos mais diferenciados, commisturas de farinhas, e o triticale, sendo um cruzamento do trigo com o centeio, tem caraterísticas especiais que conferem aos produtos qualidades reconhecidas, tanto a nível nutricional como de paladar. Esta zona do Campo Branco, não é uma zona de exce- lência para cereais, fazem-se principalmente cereais secundários para alimentação animal, mas está a ter uma procura grande da indústria para trigos BTP para o baby food . A indústria tem vindo a deixar de lado algumas zonas, no regadio, para este tipo de cereais porque há uma infes- tante comum, a figueira-do-inferno, cujas sementes – e ela produz muita, muita semente –, têm alguns proble- mas de toxicidade, levando à rejeição de vários lotes. No sequeiro isso não acontece, pelo que tem aumentado a procura deste tipo de cereais: no ano passado já houve uma experiência piloto (com a Ceres/Germen, através da Associação de Agricultores do Campo Branco), com a aquisição de alguns lotes, e este ano aumentarammuito a área. Mas os cereais também são importantes para a rota- ção das culturas. Sem dúvida, os cereais são determinantes para se fazer rotação nas áreas de sequeiro destinadas a pastagens permanentes. A rotação é o princípio básico da agricultura e, para além dos cereais, temos algumas leguminosas, como as ervilhas e os tremoços, em algumas áreas a colza também poderá entrar. Outra vantagem do regadio é que, além das produtividades, conseguimos controlar muito melhor a qualidade

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