BA4 - Agriterra
ENTREVISTA 18 Ou seja, estamos a falar não de regadiomas de sequeiro assistido, poupando água e nutrientes. Exatamente e a questão dos nutrientes é muito impor- tante porque, muitas vezes, não se fazem análises à água de rega, aos nutrientes que a água naturalmente tem. Por exemplo, aqui em Beja há uma zona vulnerável, em que a água tem um teor de nitratos elevado, por isso há práticas agrícolas que são condicionadas nessas áreas, em termos da aplicação de azoto em quantidade e épocas de apli- cação, porque esta água não só hidrata a cultura como satisfaz também algumas necessidades de nutrientes, nomeadamente de azoto, que é aquele que é necessá- rio em maior quantidade, podendo-se assim poupar no adubo sólido. Na nossa formação técnica de cereais trabalhamos precisa- mente a importância de se aplicar os fatores de produção em função da produtividade esperada: se a nossa seara apenas tem potencial para produzir 3.000 kgs não vamos aplicar adubo para 5.000 kgs. Na investigação, temos estudado também o tipo de azoto e as épocas de aplicação e verificámos que há uma fase muito importante, entre o emborrachamento e o espi- gamento, em que devemos sempre fazer aplicação de azoto. Porque, embora seja uma fase que não tenha dire- tamente influência na produtividade da cultura, é uma fase determinante para a sua qualidade. Isto, no que diz respeito aos trigos, mole e duro, no caso da cevada dística é diferente. A cevada deve ter um inter- valo proteico entre os 9% e os 11%, com um valor ótimo à volta dos 10%, por isso a época de aplicação de azoto não pode ser tão tardia, tem de ser mais precoce, no final do encanamento. Em regadio, porque se for numa produ- ção de sequeiro as adubações têm de ser feitas sempre de uma forma mais precoce, porque não sabemos o que vem em termos de chuva e se não chove depois da apli- cação ou se chove muito pouco, há pouca diluição do azoto e da proteína. Esta é outra vantagem do regadio, além das produtivida- des, conseguimos controlar muito melhor a qualidade: aplicamos azoto e regamos. Como tal, promovemos uma diluição desse azoto. A LVR não tem distinção entre sequeiro e regadio, pois não? A LVR é uma lista de variedade de qualidade – trigos melhoradores e semicorretores e os que são mais valo- rizados em termos de qualidade. É feita em regadio, não há uma LVR para o sequeiro, mas pode ser aproveitada. Só que há algumas variedades com um bom potencial pro- dutivo em sequeiro, que do ponto de vista de qualidade são menos interessantes, e que não estão na LVR, porque o que se tem valorizado é a qualidade. De certa forma é uma falha, mas que temos tentado colmatar com o pro- jeto do Grupo Operacional dos trigos BTP, onde estão em avaliação várias variedades, umas da LVR e outras não. E aí, além da qualidade, avaliamos também a produtividade, que é muito importante para o agricultor de sequeiro, e igualmente as variedades que são mais tolerantes aos agentes patogénicos, nomeadamente aos fungos, para que possamos fazer o acompanhamento do seu ciclo cultural sem a aplicação de fungicidas. Queria referir também que além da produção para ali- mentação animal emMPB, de que falei no início da nossa conversa, há também já alguns agricultores a produzir cereais para alimentação humana neste sistema, uma vez que a procura também tem aumentado e é outra forma de rentabilizar as áreas de sequeiro, uma vez que esta produção também é mais valorizada. n C M Y CM MY CY CMY K
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