BA4 - Agriterra

VITICULTURA 93 A agricultura inteligente para o clima ( Climate-Smart Agriculture, CSA ) é uma abordagem que ajuda a orientar as ações necessárias para transformar e reorientar os sistemas agrícolas, de forma a apoiar o desenvolvimento e garantir a segurança alimentar num clima emmudança. A CSA visa atingir três objetivos princi- pais: aumentar de forma sustentável a produtividade e os rendimentos agrí- colas; adaptar e construir resiliência às mudanças climáticas; e reduzir e/ou eli- minar as emissões de gases comefeito de estufa, quando possível (FAO, 2021). Nesta abordagem, a agricultura é parte da solução para combater os impactos negativos das mudanças climáticas e da degradação ambiental, ao mesmo tempo em que atende às necessida- des globais de segurança alimentar e resiliência climática. A abordagem da CSA está intimamente ligada ao conceito de sustentabilidade nas suas dimensões económica, ambiental e social. Um sistema agrícola sustentável deve ser um negócio lucrativo e que crie relações mutuamente benéficas entre os trabalhadores e a comuni- dade circundante e contribua para a gestão adequada da terra e de outros recursos naturais. Aplicando este conceito à viticultura, a produção tem de ser projetada para aumentar a qualidade (e produtividade), manter ou restaurar a fertilidade do solo, aumentar a eficiência na gestão dos recursos hídricos e energéticos, conser- var e aproveitar os recursos genéticos e os recursos endógenos, fortalecer os meios de subsistência rurais e promover a equidade e o bem-estar social. Estes são objetivos complexos, que se entrelaçam com um futuro de altera- ções climáticas e que também têmde ter em conta os desafios colocados pelo Pacto Ecológico Europeu e em particular pela estratégia ‘Do Prado ao Prato’ que, apresenta objetivos ambiciosos a atingir até 2030, dos quais salientam-se: • Reduzir em 50% a utilização de pesticidas químicos e o risco deles decorrente e reduzir em 50% a utili- zação dos pesticidas mais perigosos; • Reduzir as perdas de nutrientes em, pelo menos, 50%, garantindo simul- taneamente que não há deterioração da fertilidade dos solos, o que reduzirá a utilização de fertilizantes em, pelo menos, 20%. A chave para atingir esses objetivos múltiplos é a adoção de abordagens sistémicas e individualizadas. Uma abordagemsistémica envolve a promo- ção de estratégias de desenvolvimento integradas e harmonizadas dentro do setor vitivinícola, ao longo de todas as fases da cadeia de produção, de modo que levem em consideração as sinergias e o trade-off entre as suas diferentes dimensões. Uma abordagem individualizada foca- -se em cada exploração agrícola como um indivíduo único, com particulari- dades em termos de recursos hídricos, energéticos, solo, castas, caraterísticas climáticas e biodiversidade. Na prá- tica, estas abordagens traduzem-se na promoção de boas práticas agrícolas aliadas a soluções tecnológicas que se adequem a cada realidade em prol da CSA que o futuro exige. Pode-se elencar exemplos de boas práticas agrícolas, que são também abordagens CSA, como o cultivo de cas- tas adaptadas, a adequada gestão do solo, da fertilização e da rega, práticas de conservação de solo, uso de plantas de cobertura do solo, gestão integrada de doenças e pragas, preservação da biodiversidade nas áreas de produção e áreas limítrofes, e gestão da entrada e saída de matérias-primas, subpro- dutos e resíduos. Assim, é importante salientar que a adoção destas práticas deve respeitar as caraterísticas indivi- duais de cada exploração, em larga ou pequena escala, designando-se por isso de agricultura de precisão. A agricultura de precisão pode ser aplicada conjuntamente com tecno- logias digitais emergentes, a chamada agricultura 4.0, elevando o seu potencial de abrangência. São aplicações que podem auxiliar os atores da cadeia de produção e os agricultores na gestão mais eficaz e sustentável dos recursos naturais como o solo, a água ou até a aplicação de fitofármacos. Com res- peito aos recursos hídricos, existem ferramentas tecnológicas utilizadas para a monitorização e gestão precisa da rega (determinação das necessi- dades durante o ciclo produtivo) e reutilização das águas residuais nos sistemas de produção. Já ao nível do solo, destacam-se as tecnologias para a monitorização da saúde/ fertilidade do solo (biodiversidade existente nomea- damente as comunidadesmicrobianas) e os sistemas para a identificação e caraterização do solo para a gestão eficiente e otimizada da fertilização (mapas de prescrição para a variável aplicação). Em relação à fitossanidade das plantas, têm sido desenvolvidos modelos de previsão de pragas e doenças integrados em sistemas de apoio à decisão, dispositivos para monitorização de pragas em tempo real, tecnologias para aplicação variável Figura 1: Fenotipagem de alto débito no Campo Ampelográfico do Esporão (drone DJI Inspire 100, câmara multiespectral Micasense Red Edge e câmara térmica Flir Vue Pro R).

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