BA5 - Agriterra

15 CEREAIS "UMA DAS RAZÕES PARA O DECRÉSCIMO DE PRODUÇÃO NOS ÚLTIMOS ANOS É A POUCA RENTABILIDADE DESTAS CULTURAS" AGRITERRA: O setor dos cereais tem vivido períodos de alguma turbulência. Como olha para o panorama da produção (comnecessidades de crescimento), da sustentabilidade e eficiência no uso dos recursos e tambémno que respeita ao tão famigerado tema da rotação de culturas, tão importante? José Palha: Uma das razões para o decréscimo de produção nos últimos anos é, sem dúvida, a pouca rentabilidade destas culturas. Os solos e o clima que temos em Portugal não nos permitem grandes pro- duções, como acontece noutras latitudes. O mercado global leva a que países mais competitivos consigam colocar os seus produtos mais baratos no nosso País. No entanto, nós conseguimos produzir qualidade, qualidade essa reconhecida pela indústria e reconhe- cida, cada vez mais, pelo consumidor final. Exemplo disso é o crescimento exponencial da marca Cereais do Alentejo. O caminho do setor tem que ser o da valorização da produção por via da qualidade. Temos feito esse trabalho de valorização, aliando a LVR, a promoção e a transferência de conhecimento tendo em vista o aumento da eficiência na utilização dos recursos. Temos, hoje, de responder a quatro grandes tendências: a necessidade de ser mais eficientes para alimentarmos uma população cada vez maior; num mundo que se impõemais ecológico; que procura novas alternativas alimentares, simultaneamente seguras e nutricionalmente equilibradas; e que reconhece, cada vez mais, a importância da origem e proximidade do que consome. Nós damos resposta a estas novas ten- dências: produzir mais (e em qualidade) com menos e, assim, ser mais sustentável a todos os níveis, seja ambiental ou económico. A questão das rotações é, na nossa opinião, muito importante, razão pela qual queremos que culturas como o girassol, o grão ou a colza, sejam uma alterna- tiva real às culturas de primavera/verão como o milho ou o tomate de indústria. Estas culturas têm vindo a ganhar preponderância na medida que o seu maneio é cada vez mais eficiente e a rentabilidade cada vez maior. Acresce o papel importante para a conservação do solo e, não menos importante, o facto de serem culturas que, em regadio, têm um consumo de água, comparativamente, muito reduzido. Em anos secos, o que infelizmente é cada vez mais frequente, este tipo de culturas pode representar uma alternativa muito relevante. Como encara as ajudas, no âmbito da nova PAC, aos cereais e as posições da tutela que no verão passado todos assistimos? Na nossa opinião, esta mudança de posição é abso- lutamente incompreensível. A medida que estava desenhada resultava de um enorme trabalho, quer das instituições públicas, quer do setor, e baseava- -se numa análise profunda da produção e do que se considera importante acontecer em Portugal do ponto de vista estratégico. Não achávamos possível, por isso, que a medida da ajuda ligada aos cereais no período de transição (2022)- i) tecnicamente e estra- tegicamente fundamentada; ii) prevista há um ano – aliás publicamente anunciada, por mais de uma vez, inclusivamente pela Sr.ª Ministra –; iii) apresentada, na sua essência, pelo GPP; e iv) aprovada pela Comissão Europeia - pudesse simplesmente cair! Fica a sensação que tutela não tem um rumo defi- nido e que, por questões de política doméstica, cede a pressões, desconsidera o trabalho das suas equipas e põe em causa um setor tão importante como é o dos cereais. Temos, neste momento, a promessa da Sr.ª Ministra que em 2023, aquando da entrada em vigor da nova PAC, esta medida será uma realidade. Ora, nós esperamos que assim seja. No entanto, o atraso no PEPAC e a pouca transparência que envolve todo o processo, deixa-nos muito apreensivos. Que desafios e constrangimentos, de uma forma sucinta, imperam à fileira dos cereais em Portugal? Os desafios são, sem dúvida, a continuação da valo- rização da produção e a cada vez maior eficiência da utilização dos recursos que nos levará à sustentabilidade da produção. Como costumo dizer, é um trabalho que se faz em conjunto, com toda a fileira. Cabe à ANPOC e ao CEREALTECH garantir esta integração e dar con- tinuidade ao trabalho que tem sido desenvolvido. "A questão das rotações é muito importante, razão pela qual queremos que culturas como o girassol, o grão ou a colza, sejam uma alternativa real às culturas de primavera/ verão como o milho ou o tomate de indústria".

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