BA5 - Agriterra
61 REPORTAGEM ESTREMOZ: "UM DIAMANTE EM BRUTO" Descendo no Alentejo, chegamos agora a Estremoz, num projeto que António Bonito classifica como um “diamante em bruto”. Falamos da exploração na Herdade de Montinho, de 1200 hecta- res, que conta já com três anos. "Quando chegámos, tínhamos um pivot que estava parado há 20 anos, várias barragens que nos diziam ter alguns problemas. Mas, felizmente, essas barragens são extraordinárias, com uma capacidade excelente de produzir regadio. Conseguimos, no ano passado, retirar cinco colheitas com o pivot. Este ano, vamos já ter mais de 100 hectares de regadio. E temos um projeto para dois pivots, sendo que queremos ficar com uma área irrigada na ordem dos 150 hectares", começa por explicar. Este cenário, garante, vai permitir ter uma capacidade produtiva ao nível de forragens para consumo próprio, "porque em Estremoz temos aliada a parte de pecuária, na vertente de bovinos, e vamos aumentar esta explo- ração para as 800 vacas". "Temos, neste momento, 300 vacas de carne. E o nosso objetivo é, dentro de dois anos, chegar às 800, ter 150 hectares de regadio, muita área para a produção de forragens e valorização das pastagens naturais e beneficiar da incorporação de alguns prados e melhoramento dessas áreas, bemcomo a valorização do montado de sobro e azinho, e explorar também a parte do montado na vertente do porco alen- tejano", enumera o agricultor. Adianta que a exploração, nesta campa- nha - emoutubro - conta já comporcos alentejanos do montado "e fazendo já nós o trabalho de forma autónoma". "Trabalhamos com a Associação de Criadores do Porco Alentejano e são eles que nos fornecemos porcos, pron- tos a entrarem no montado e fazem também o escoamento". A juntar a tudo isto, há muito poten- cial turístico que, a longo prazo, será equacionado, de forma estratégica e em forma de parcerias, adianta António Bonito. O incrementode renováveis nesta explo- ração em Estremoz é outro intento do empresário, aliando a eficiência ener- gética à sustentabilidade ambiental, de forma integrada, e com vista a alcançar a independência energética. Para já, está previsto o investimento na capta- ção de energia solar injetada na rede para abastecimento da área de regadio. No que respeita ao regadio e ao uso eficiente da água para a rega, António Bonito refere que "estamos a fazer a monitorização da humidade que está no solo e só regamos quando a cultura realmente necessita, o que nos per- mite fazer mais commenos". Nesta matéria, e em jeito de conclu- são, alerta: "se o Alqueva é visto como um foco de desenvolvimento e sus- tentabilidade (e é), é preciso também dizer que nem todas as regiões podem beneficiar do Alqueva, mas podemos fazer 'pequenos Alquevas', ou seja, é essencial que nos permitam a capaci- dade de reter as águas de inverno em barragens para podermos ter os nos- sos regadios. Com isso, conseguimos gerar riqueza, emprego e contribuir para o desenvolvimento económico e combater a desertificação". E para tal, apela a uma política nacional con- certada nesta matéria. Por fim, deixa umamensagemao setor agrícola: "nunca deixem de acreditar na nossa capacidade, resiliência, na nossa capacidade de inovar. A agri- cultura tecnológica, com maior ou menor incorporação, terá de estar sempre presente". Para a próxima década, António Martins Bonito antevê uma especia- lização cada vez maior por parte dos nossos agricultores e uma interliga- ção mais vincada entre a Academia e a Produção. "A agricultura temde fazer umcaminho, que paramim, é o grande desafio futuro para o País: isso passa pela valorização da nossa produção e pela capacidade de produzirmos sob uma marca forte. É essencial que nos diferenciemos, por- que é isso que nos distingue e nos valoriza", conclui. n PERFIL Nascido no Alentejo, em 1971, Mestre em Agricultura Sustentável e especia- lista em Tecnologias de Produção Agrícola, António Martins Bonito iniciou a sua atividade profissional ligado a uma organização de âmbito nacional na área da PAC. Vogal da Direção da CAP de 2011 a 2017, assumiu o cargo de presidente da Associação para a Promoção do Desenvolvimento e Internacionalização da Agricultura Portuguesa (AGROTHINK) e da Associação de Desenvolvimento Regional (LITORALRURAL), tendo sido sócio na empresa de consultoria Des. Rural – Soc. Desenvolvimento Rural. Tem uma larga experiência em consultoria de projetos, de âmbito nacio- nal e internacional, com ênfase no setor agrícola e projetos agroindustriais, tendo colaborado no projeto 'Estudo do Potencial Agroindustrial em Angola', desenvolvido para o Grupo Mota-Engil Angola. Entre outras funções e cargos, foi consultor em empresas agropecuárias e agroindustriais e perito do Grupo da Carne de Bovino no Copa Cogeca e do Grupo de Trabalho da Carne de Bovino na Comissão Europeia DG Agri, em Bruxelas, no período de 2011 a 2017. Além de empresário, atualmente é também professor convidado na Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC).
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