BF10 - iAlimentar

OPINIÃO 64 Que papel tem a indústria alimentar no desenvolvimento da obesidade? Gil Faria, cirurgião especialista em Cirurgia da Obesidade e Metabolismo; coordenador dos Centros de Tratamento da Obesidade do Hospital Pedro Hispano, em Matosinhos e do Grupo Trofa Saúde; professor da FMUP; investigador clínico na área da Cirurgia Metabólica e Obesidade O apetite humano por proteínas, a palatabilidade, a conveniência e disponibilidade das comidas ultraprocessadas e o poderoso marketing utilizado pela indústria alimentar são alguns dos aspetos mais determinantes no que diz respeito ao risco de obesidade a que assistimos no mundo ocidental. Durante o século XX, os padrões de alimentação nos países desenvolvidos alteraram-se de forma substancial, como resultado do crescimento económico exponencial, da globalização e de grandes alterações no estilo de vida das populações. Importantes avanços tecnológicos na indústria alimentar, uma cadeia de distribuição global e um poderosíssimo marketing para promover produtos alimentares levaram ao aumento do consumo de comida pronta a comer e ultraprocessada. A dieta tradicional, baseada em alimentos minimamente processados e cozinhados em casa, tem sido cada vez mais substituída por alternativas processadas industrialmente e produtos prontos a comer. Nos EUA, o consumo de comida ultraprocessada é responsável por mais de 60% de todas as calorias ingeridas e em países como a Alemanha ou a Holanda, esse valor aproxima-se dos 80%. Simultaneamente, tem havido um aumento global da obesidade, o que leva diversos estudiosos a propor a existência de uma relação direta entre a alimentação ultraprocessada e o desenvolvimento desta doença. Esta associação tem sido encontrada em alguns países, embora ainda esteja por comprovar o seu nexo de causalidade. A hipótese mais comum é a de que o aumento do consumo de comida ultraprocessada compromete a qualidade nutricional da dieta e aumenta o risco de obesidade. Alguns estudos concluíram que quanto maior a compra e/ou o consumo de alimentos ultraprocessados, maior o risco de desenvolvimento da obesidade. A dieta ultraprocessada, habitualmente, inclui ingredientes utilizados no processamento da comida, tais como óleos hidrogenados, xarope de milho, emulsificantes e edulcorantes. São, normalmente, mais económicas e práticas, mas têm quase sempre uma maior quantidade de gordura, hidratos de carbono, sal e calorias. As comidas ultraprocessadas extraem alguns componentes dos alimentos 'integrais' e alteram-nos com processos químicos ou aditivos, de forma a obter A indústria alimentar tem de estar consciente das associações entre os alimentos ultraprocessados e a obesidade

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