BF2 - iALIMENTAR

INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO 59 Em maio de 2021, a Comissão para Agricultura e Desenvolvimento Rural do Parlamento Europeu publicou o estudo 'Impactos preliminares da pandemia Covid-19 na agricultura europeia: uma análise setorial dos sistemas alimentares e resiliência do mercado' (Montanari et al . 2021). O estudo, realizado pela consultora europeia Arcadia International, for- nece uma primeira análise qualitativa e quantitativa, considerando o período entre março 2020 e janeiro 2021, do impacto da Covid-19 na cadeia agroa- limentar, além de avaliar as medidas de intervenção da União Europeia (UE) e nacionais para mitigar os efeitos da pandemia. Este artigo pretende apresentar os principais resultados, conclusões e recomendações deste estudo. 1. IMPACTOS CAUSADOS PELA COVID-19 NA CADEIA AGROALIMENTAR Um dos primeiros desafios que a cadeia de abastecimento agroali- mentar da UE teve de ultrapassar está relacionado com o aumento da procura de alimentos devido a um certo panic-buying do consumidor. Em geral, no início da pandemia, foi observado um aumento massivo nas vendas de produtos alimentí- cios de longa conservação como massa, arroz, congelados e enla- tados, deixando as prateleiras dos supermercados vazias. No caso de Portugal, com garantias das autoridades de que a distribuição não estava em risco, a situação voltou rapidamente ao normal (Montanari et al . 2020). Sempre no início da pande- mia, foram relatados na UE casos de escassez de mão de obra causados por restrições de movimento, atrasos nas entregas de géneros alimentícios, matérias-primas e outros insumos agroalimentares, mas que foram devi- damente ultrapassados em função da resposta da UE (ver secção 3). No entanto, devido a estas interrupções na cadeia de abastecimento junta- mente com o fecho de alguns canais de escoamento, muitos agricultores europeus acabaram por sofrer perdas económicas significativas. Por vezes, essas interrupções levaram a exceden- tes de produção que tiveram de ser eliminados, na ausência de medidas de gestão de mercado direcionadas a todos os setores. Em toda a UE, inclusive em Portugal, um dos setores mais afetados pela pandemia foi a restauração. Numa tentativa de conter o vírus, ao longo da pandemia bares e restaurantes foram repetidamente alvo de res- trições nacionais limitando o seu funcionamento. Consequentemente, os setores e os operadores agroali- mentares mais dependentes deste canal sentirammaiores dificuldades, principalmente aqueles para os quais a restauração constitui o principal canal de escoamento, tal como é o caso do setor vinícola ou da carne de bovino (ver secção 2). Contrariamente à restauração, de modo geral, durante a pandemia os retalhistas puderam permanecer abertos, uma vez que a atividade des- ses operadores foi considerada uma atividade essencial na generalidade dos países europeus. No entanto, com a Covid-19, o modelo tradicional de retalho sofreu importantes alterações integrando cada vez mais o comércio online e com muitos operadores a implementar ou reforçar políticas de abastecimento local. Sem dúvida que, também em Portugal, um dos setores que mais cresceu com a pandemia foi o comércio eletrónico. De acordo com os dados da SIBS, o comércio ali- mentar e retalho online cresceu 109% no primeiro confinamento e 97% no segundo, comparado com o mesmo período do ano anterior (SIBS 2021). A pandemia também afetou signi- ficativamente as preferências dos consumidores da UE. De modo geral, os consumidores mostraramummaior interesse por produtos de conveniência e mais saudáveis. No entanto, para grupos populacionais de baixos ren- dimentos, o preço reafirmou-se como um fator determinante na escolha ali- mentar, muitas vezes em detrimento de opções mais saudáveis. Em geral, o estudo destaca que a cadeia de abastecimento agroalimen- tar da UE demonstrou um alto grau de resiliência durante a pandemia. Com efeito, a produção da agroin- dústria baixou em valor apenas 1,4% em 2020 em comparação com 2019, mas em relação à média 2015-2019 cresceu 2,9%. 2. IMPACTOS CAUSADOS PELA COVID-19 EM SETORES AGROALIMENTARES ESPECÍFICOS No geral, o setor agroalimentar europeu teve um desempenho relativamente positivo em 2020, com a produção, preços e níveis de comércio a permane- cerem estáveis na maioria dos setores. No entanto, alguns setores enfrenta- ram particulares desafios, como foi o caso do setor do vinho. No que a este diz respeito, a produção da UE e o comércio Extra-UE diminuíram em 2020 em comparação com a média do período 2015-2019 (Tabela 1). Em Portugal, também a diminuição do número de turistas estrangeiros afetou significativamente o setor e principal- mente o vinho do Porto, que sofreu uma quebra de 31,1% de vendas em 2020 face ao ano anterior (IVDP 2020). No entanto, em termos quantitativos, em2020, Portugal viu a produção subir 3,6% em valor face à média 2015-2019. Já em 2021, os dados mais recentes relatam que as exportações de vinho subiram 14,5% em volume e 19,3% em valor nos primeiros seis meses do ano quando comparado com o período homólogo de 2020, mostrando assim resiliência e capacidade de adapta- ção do setor (Gabinete da Ministra da Agricultura 2021).

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