BF2 - iALIMENTAR

INVESTIGAÇÃO E INOVAÇÃO 60 Da mesma forma, o setor da carne de bovino foi severamente afetado pela pandemia e em particular pelo encerramento da restauração, prin- cipalmente no que toca à carne de vitela: a produção da UE e as trocas comerciais registaram uma redução importante em 2020 (Tabela 1). No caso de Portugal, também outras carnes autóctones (por exemplo, cabrito e leitão) foram significativa- mente impactadas pela pandemia, não só devido ao encerramento da restauração, como também devido às restrições à circulação impostas durante as festividades do Natal e Páscoa, uma vez que o consumo des- tas carnes está intimamente ligado a estas comemorações no País. Ao nível da UE, o açúcar também foi um dos setores mais afetados pois viu o seu consumo diminuir durante a pandemia, o que se refletiu em níveis de produção mais baixos. Também é importante destacar que os produtos ornamentais sofreram significativamente com a pandemia, nomeadamente a categoria de flores e plantas que se estima ter sofrido uma perda de 4,12 mil milhões de euros só na primeira vaga da pandemia. Apesar das dificuldades referidas acima, de modo geral, os operado- res da cadeia agroalimentar europeia demostraram uma grande capaci- dade de procurar alternativas e de se adaptar às novas circunstâncias. Por exemplo, para evitar o desperdício e garantir viabilidade económica, alguns setores alteraram as suas linhas de produção: por exemplo, vinho e etanol foram convertidos em desinfetantes enquanto produtos avícolas destinados à restauração foram redirecionados e embalados para serem vendidos no retalho. 3. RESPOSTAS POLÍTICAS DA UE E NACIONAIS À PANDEMIA COVID-19 Conforme os resultados do estudo procuram demonstrar, a resposta da UE foi altamente eficaz, em particu- lar na preservação da integridade do mercado único através de medidas como os green lanes (corredores ver- des), criados para agilizar a passagem dos veículos de transporte de bens essenciais, entre os quais géneros ali- mentícios e outros inputs agrícolas, nas fronteiras. Contrariamente, as medidas europeias adotadas no contexto da Política Agrícola Comum (PAC) tiveram resul- tados mistos. Enquanto as medidas de flexibilização na gestão das regras da PAC, incluindo, por exemplo, a gestão de pagamentos diretos aos agriculto- res, foram comumente consideradas úteis e adequadas, as medidas de ges- tão dos mercados agrícolas – tal como as ajudas à armazenagemprivada e as derrogações às regras de concorrência - foram implementadas parcialmente ou de forma inconsistente entre os Estados-membros. Por outro lado, o estudo conclui que as respostas financeiras nacionais foram superiores às ajudas financeiras intro- duzidas ao nível da UE. Neste sentido, importa destacar que a contribuição total da PAC foi apenas de 80 milhões de euros (maioritariamente sob forma de ajudas à armazenagem privada) enquanto as ajudas estatais disponibili- zadas pelos demais governos nacionais alcançaram 63.9 mil milhões de euros. Neste contexto, Portugal destaca-se por ser um dos 13 Estados-membros a ter implementado medidas finan- ceiras específicas para o setor do vinho (23 milhões de euros), nomea- damente para destilação de crise e armazenagem privada. Além do vinho, o Estado português estabele- ceu igualmente medidas financeiras de apoio ao setor das flores, carne de aves e ovos, carne de porco e leite Produção (Volume) Produção (Valor) Comércio Intra-EU (Volume) Comércio Intra-EU (Valor) Comércio Extra-EU (Volume) Comércio Extra-EU (Valor) Carne de vaca e vitela ↓ -1% ↓ -6% ↓ -6% ↓ -7% ↓ -1% ↓ -3% Carne de porco ↑ 2% ↑ 9% ↓ -6% ↑ 5% ↑ 28% ↑ 54% Carne de aves ↑ 6% ↓ -0,4% ↑ 1% ↑ 7% ↑ 3% ↓ -3% Carne de ovelha e cabra ↑ 5% ↓ -3% ↓ -9% ↓ -6% ↑ 17% ↑ 26% Leite e produtos lácteos ↑ 3% ↑ 6% ↓ -1% ↑ 6% ↑ 10% ↑ 15% Ovos ↑ 2% ↑ 1% ↑ 4% ↑ 1% ↓ -2% ↑ 3% Açúcar e etanol ↓ -11% Não disponível ↓ -0,3% ↓ -2% ↓ -46% ↓ -44% Vinho ↓ -3% ↓ -5% ↓ -0,3% ↑ 5% ↓ -3% ↓ -2% Frutas e vegetais ↑ 1% ↑ 10% ↑ 0,5% ↑ 10% ↓ -7% ↑ 4% Batatas ↑ 10% ↑ 5% ↑ 6% ↑ 7% ↓ -14% ↓ -24% Produtos ornamentais Não disponível ↑ 5% ↓ -7% ↑ 9% ↓ -20% ↑ 6% Tabela 1. Variação entre a média 2015-2019 e 2020, em volumes e valores de produção e exportação ao nível da UE para os setores em estudo. Fonte: Montanari et al. 2021.

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