ENTREVISTA 33 ciados aos perigos na cadeia alimentar. Tem ainda um importante papel na comunicação dos riscos na cadeia alimentar aos seus principais parceiros, partes interessadas e o público em geral, ajudando a colmatar o fosso entre a ciência e o consumidor. Relembrando o início desta pandemia, a ASAE, com o contributo do seu CC quer no quadro nacional - com a elaboração do Parecer 'Pode o novo tipo de coronavírus ser transmissível através da Comida?' - quer ativamente nas FAQ’s da CE em colaboração com a EFSA e com DG-Sante, trabalhou na harmonização das mensagens a utilizar na comunicação dos riscos em toda a Europa. Foi um trabalho conjunto visando mitigar alarde desnecessário. Fomos bem-sucedidos. A relação da EFSA com a ASAE, que é seu ponto focal em Portugal, é muito fluída. Igualmente, através das entidades que cooperam cientificamente com a EFSA nos diferentes domínios da cadeia alimentar – chamadas de Entidades Art. 36º - a colaboração é salutar e funciona em toda a cadeia alimentar. Também a capacidade de antecipar necessidades de avaliação de riscos, com acompanhamento do ONRE - Observatório Nacional dos Riscos Emergentes e das networks dos riscos emergentes e da comunicação da EFSA, permite monitorizarmos o que se está a passar noutras geografias, e, quais os modelos mais adequados para intervir de forma harmonizada e concertada. Cada vez mais a sustentabilidade e transparência exigem parcerias e congregação de sinergias para maior eficácia global. No último verão a ASAE, em articulação com a EFSA, colocou no terreno a campanha #euchoosesafefood. O objetivo foi aumentar a consciência sobre a ciência por detrás da nossa alimentação e falar nos cientistas que garantem a nossa segurança. Visou encorajar os cidadãos a pensar criticamente sobre as suas escolhas alimentares diárias e inspirá-los a fazer escolhas alimentares com confiança. No que concerne à segurança alimentar, a pandemia provocou alterações no consumo dos portugueses? Sem dúvida que houve alterações no consumo e comportamentos alimentares, comparativamente ao período pré-pandemia, mas não necessariamente com implicações de segurança alimentar. Desde logo, assistimos a uma adesão nunca antes vista para o comércio on-line. Será também importante atender aos resultados do REACTCOVID-2.0, em que cerca de 37% da população inquirida declarou ter alterado os seus hábitos alimentares. 42% mudou para pior com recurso a mais refeições take-away e snacks, contra os restantes 58% que mudaram para melhor commais hortícolas, água e fruta. Contudo, a conclusão desse estudo é que o padrão de consumo alterou-se sendo prevalente o menos saudável, pelas famílias socioeconomicamente mais desfavorecidas. Tal sugere que a pandemia tenha agravado as desigualdades em saúde, cujo determinante da alimentação é muito relevante. É mais um argumento que concorre para a importância de se encontrar financiamento para uma nova edição do IAN-AF – Inquérito Alimentar Nacional e atividade física. São os dados do IAN-AF (validados pela EFSA) que nos permitem tirar a radiografia do que comem os portugueses, monitorizando consumos e comportamentos alimentares (incluindo dimensões nutricionais, de segurança e insuficiência alimentar), além da atividade física. Permite ainda estabelecer a relação destas dimensões com outros determinantes em saúde, nomeadamente os socioeconómicos. “A sustentabilidade não se trata apenas de moda, é um imperativo para todos nós”.
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