ENTREVISTA 36 connosco neste projeto. A inovação está inculcada no ADN da organização. Desde logo porque a segurança alimentar baseia-se na ciência e no risco e a investigação tem que acompanhar os produtos e respetivos sectores, conhecendo e estudando as respetivas cadeias de valor desses mesmos produtos. O tema da sustentabilidade e, mais concretamente, da economia circular é algo que, agora, está namoda. De que forma isso condiciona o trabalho da ASAE? Permita-me salientar que a sustentabilidade não se trata apenas de moda. A sustentabilidade é um imperativo para todos nós. Desde logo, ético. Pois, não há planeta B. O futuro da alimentação assume-se como preocupação global, cujas interconexões têm como eixos fundamentais os desafios geracionais hercúleos que temos pela frente. Lidar com a evolução demográfica, população mais envelhecida e de acordo com dados das Nações Unidas – seremos cerca de 10 biliões em 2050, concentrados em zonas urbanas (cerca de 70%). A este fenómeno associam- -se as complexas operações logísticas inerentes a este desafio. Eficiência de recursos pela degradação dos solos; as alterações climáticas cujas reflexões na última COP26/ Glasgow reiteram os desígnios do Acordo de Paris; tecnologias emergentes que incrementem a produtividade; e, por fim, mas não menos importante, o combate às perdas e desperdícios, sabendo-se que 1/3 dos alimentos a nível mundial são desaproveitados desde a produção até ao consumidor, tornando insustentável toda a cadeia de valor. Uma outra questão prende-se com os plásticos de uso único, que contrapõe à tendência de as pessoas levarem os seus próprios recipientes quando vão às compras ao supermercado ou adquirir comida num take-away. De que forma a fiscalização, a higiene e a segurança alimentar podem coabitar com esta tendência? A questão trata-se de conciliar o menor desperdício possível com questões de segurança alimentar que importa garantir nas embalagens e no respetivo transporte e acondicionamento até ao consumidor final. Quais as tendências europeias relacionadas com a segurança alimentar? As tendências vão claramente ao encontro do aceleramento da digitalização. Estamos numa via sem retorno na era da informação. Além de colher os dados é preciso interconectá-los. É um novo paradigma de transformar 'data collection' em 'data connection'. Numa sociedade de informação em que a economia digital apresenta enorme resiliência, com autoridades competentes cuja força motriz é alicerçada em transparência, integridade, accountability e com sistemas de informação integrados e relacionais de apoio à decisão. Tornou-se ainda mais prioritário, no âmbito do controlo oficial europeu, a existência de estruturas de dados robustas com requisitos de interoperabilidade com outros sistemas de informação para monitorização transversal da cadeia alimentar. Estas soluções visam permitir escrutinar a cadeia de valor com dados fiáveis, harmonizados, seja para planeamento de gestão operacional, para estudos de avaliação de risco e naturalmente de apoio à decisão política. Como avalia a prestação de Portugal no que concerne à segurança alimentar quando comparado com a média europeia? Portugal está totalmente alinhado com o sistema de segurança dos alimentos existente na UE que funciona num continuum em toda a cadeia alimentar. O normativo vigente é dos mais completos a nível mundial cfr. Lei Geral dos Alimentos – o Reg.178/2002 e seu Pacote de Higiene associado. Tem a enorme virtude, que não me canso de referir, de ser sustentado na ciência e com base no risco, permitindo ao mercado europeu consagrar-se como dos mais seguros do mundo, se não o mais seguro. Em Portugal, temos níveis de segurança dos alimentos extremamente elevados. Os dados do PNCA dão-nos conta que as principais não conformidades detetadas são referentes a requisitos específicos e rotulagem. Saliento que no último quinquénio cerca de 92% dos alimentos controlados encontravam-se conformes, e no que se refere à segurança microbiológica alcançam níveis a rondar os 97 a 98% de conformidade. n
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