34 LATICÍNIOS EM PORTUGAL nossa soberania alimentar”. Um objetivo que, na opinião do Idalino Leão, objetivo tem que ser assumido e partilhado por todos os elos da cadeia agroalimentar, trazendomais equidade e justiça para todos. Carlos Neves afirma mesmo que a avaliação negativa dos últimos 12 anos, "onde estivemos sempre abaixo da média comunitária”, colocou Portugal no último lugar entre os 27 Estados-membros. É certo que no ano passado o Governo anunciou um conjunto de medidas de apoio que se complementam e visam contribuir para o aumento da rentabilidade e resiliência do setor. Medidas de apoio à tesouraria das explorações, à modernização das explorações e criação de valor na transformação, e de apoio ao reforço da organização da fileira. No entanto, a avaliação geral das mesmas não é assim tão positiva. “As ajudas são poucas, limitadas e muitas vezes de fachada”, afirma Carlos Neves, que acrescenta que antecipar ajudas, dar crédito ou isenção de IVA, são apenas medidas de tesouraria que se limitam a empurrar o problema para a frente, sem vermos medidas para aumentar o rendimento. O que, na opinião do secretário-geral da APROLEP, só será possível se o Governo se empenhar para que indústria e distribuição paguem à produção um "preço justo" que pague os custos de produção e o trabalho dos produtores de leite e suas famílias. Idalino Leão, por seu lado, tem uma visãomenos pessimista dasmedidas do Governo. Para o presidente da AGROS, o Executivo tem procurado minimizar a escalada de preços, através de apoios diretos e extraordinários, desde logo, aos produtores de leite, e isso é positivo. No entanto, acrescenta, a magnitude da escalada dos custos de produção exigiria um pacote orçamental mais robusto e mais célere, de forma que as ajudas cheguem rapidamente aos produtores. “A título de exemplo, as ajudas propostas para os produtores de leite emPortugal são 33% inferiores às decididas em Espanha, enquanto o apoio extraordinário ao gasóleo agrícola no país vizinho é de 20 cêntimos por litro e, em Portugal, é pouco mais de 3 cêntimos por litro”, refere, acrescentando que este é o momento político de retribuir o esforço que os agricultores fizeram aquando dos confinamentos, pois continuaram a trabalhar produzindo alimentos seguros para todos os consumidores. “Esta é a hora de ver reconhecido o nosso esforço”, conclui de forma categórica. O IMPACTO DA GUERRA NA UCRÂNIA A todas estas dificuldades acrescem as provocadas pela guerra no Leste da Europa. Sobre isso, Carlos Neves refere que a pandemia causou dificuldades pontuais ou localizadas, por exemplo com produtores que abasteciam queijarias e que dependiam do mercado de turismo e restauração. Já no que concerne à mão-de-obra foram “dificuldades pontuais” e ainda “algumaumento de custos”. “A guerra na Ucrânia causou um enorme aumento de custos com energia, rações, adubos e demais fatores de produção, que apenas tem tipo resposta atrasada no preço do leite ao produtor, o que causa um défice permanente”, constata o secretário-geral da APROLEP. Idalino Leão faz uma avaliação aprofundada, começando ainda na pandemia, altura em que “o setor dos laticínios continuou a laborar, como aliás aconteceu com todo o complexo agroalimentar, de forma a disponibilizar bens imprescindíveis de consumo diário das famílias”. Como refere o presidente da AGROS, tratou-se de um grande esforço de todos os intervenientes da fileira, desde os produtores de leite, passando pelos trabalhadores da indústria e da distribuição. Foi umperíodo da história de Portugal (e do mundo) caraterizado por “confinamentos, dificuldades de gestão de recursos humanos devido aos isolamentos obrigatórios e complicações logísticas inesperadas”. No entanto, realça Idalino Leão, podemos dizer que pior cenário tem sido o pós pandemia e agora, mais recentemente, após a guerra na Ucrânia. “Com efeito, um movimento em alta dos preços das matérias-primas que já se vinha a registar desde o princípio de 2021, escalou exponencialmente com o início do conflito no final de fevereiro. Matérias-primas para alimentação animal (cereais), fertilizantes, energia e materiais para embalagens sofreram aumentos de custo inimagináveis há alguns meses atrás, não se vislumbrando uma estabilização a curto prazo”, constata. n A crise no mercado dos laticínios não é de hoje. Há já algum tempo que os produtores se queixam do preço do leite.
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