LATICÍNIOS EM PORTUGAL Em termos de custos de produção, a indústria passa por uma série de provas duras, que obrigam a pensar e a reorganizar processos, menorizando impactos mais gravosos 38 Por que razãoos preços do leite àprodução emPortugal continuam a ser inferiores à média da UE, além de sabermos que o preço ao consumidor é também um dos mais baixos a nível comunitário? Neste capítulo, gostaria de reforçar o já referido esforço feito pela indústria para garantir um patamar de remuneração ao setor agrícola. Assim, face a março de 2021, ou seja, relativamente a um ano antes, os preços ao produtor aumentaram em Portugal 13,8%. Se nos reportarmos apenas aos preços do leite no Continente aquela percentagem sobe para 14,7%. Os dados de abril refletirão os aumentos efetuados num total de 9,5 cêntimos, colocando o leite em valores a rondar os 42 cêntimos. Estes aumentos, sublinhe-se, foram feitos apesar de as empresas industriais não terem conseguido repercutir os incrementos do preço do leite e dos outros fatores de produção nos preços de venda dos seus produtos aos seus clientes diretos, as cadeias da grande distribuição. A degradação dos preços do leite e dos produtos lácteos é fruto da continuada política de comercialização e de fidelização de clientes das diferentes insígnias, onde consecutivamente, e durante anos, foram utilizando o leite e os produtos lácteos como produtos chamariz, na sua estratégia e que temos vindo a denunciar. É incompreensível o grau de desvalorização que o índice de preços ao consumidor para os produtos lácteos revela nos últimos anos. A Distribuição temneste ponto uma influência gigantesca. De que forma é possível alterar este panorama? A alteração deste panorama passa pela assunção de responsabilidade e por espírito de solidariedade por parte da distribuição, de forma a proteger a produção de leite e produtos lácteos nacionais. É premente que a distribuição faça um caminho de aceitação e de diálogo negocial, em tempo útil, e que deixe cair as barreiras que constantemente coloca à aceitação de aumentos apresentados pelas empresas fabricantes, muito em especial nos produtos de marca de distribuição ou as chamadas marcas brancas. A não transmissão destes aumentos de custos ao longo da cadeia não é sustentável. É importante que a ‘concorrência’ entre as principais cadeias de distribuição, pela conquista de consumidores e manutenção de quotas de mercado não esteja ancorada ao nível dos produtos básicos, como o leite, alguns queijos e iogurtes, especialmente quando estes concorrem diretamente com o preço dos produtos das marcas de distribuição. É importante que as insígnias da grande distribuição revejam as suas políticas comerciais de forma a eliminar o chamado ‘financiamento cruzado’, que se constitui como um fator de distorção concorrencial, onde a baixa/nula margem dos produtos da distribuição é compensada pela margem superior imposta aos produtos de fabricante. Deste mecanismo resulta um diferencial injustificável ao nível do preço ao consumidor entre as marcas de fabricante e as marcas de distribuidor. Sabemos já que no curto prazo o rendimento disponível das famílias vai diminuir, e que isso condicionará as escolhas do consumidor, que optará por produtos mais
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