BI299 - O Instalador
66 RENOVÁVEIS: DESCARBONIZAÇÃO, TRANSIÇÃO ENERGÉTICA E ECONOMIA CIRCULAR binas reduziu um terço enquanto a capacidade instalada duplicou, contri- buindo para a diminuição do impacto visual, mas também para a redução de consumo de matérias-primas e de resíduos para destino final. Atualmente, cerca de 85 a 90% da massa total de uma turbina pode ser reciclada, dado que tanto a base como a torre e a nacelle têm práti- cas de reciclagem estabelecidas. Por exemplo, uma torre de aço pode ser completamente reciclada sem per- das de qualidade. Já as pás não têm um fim de vida tão linear, pois são produzidas à base de compósitos de vários materiais que garantem o melhor funcionamento em termos aerodinâmicos e tambémdurabilidade, à semelhança das matérias utiliza- dos em aeronaves, o que dificulta a sua identificação enquanto resíduo. Geralmente, as pás são categorizadas como resíduos plásticos de construção ou demolição, mas também podem ser classificadas com outros códigos LER (Lista Europeia de Resíduos), o que dificulta que estas tenham um tratamento ideal de fim de vida. Apesar de já existirem várias técnicas para reciclar pás, ainda não estão dis- poníveis em grande escala e também não são competitivas em termos de custos, levando a alternativas como a reutilização e modificação do uso dos materiais, como por exemplo, a conversão de pás de turbinas em abri- gos de bicicletas na Dinamarca. Não obstante, este setor de atividade será estimulado pela necessidade de mer- cado, àmedida que o parque existente na Europa de turbinas que chegam ao fim de vida se tornar crescente e pelo facto de ser tratarem de matérias que podem ser valorizadas, a par com a necessidade de atingir as metas de reciclagem e reutilização estabeleci- das pela CE para 2030. Já os painéis fotovoltaicos apresentam uma realidade ligeiramente diferente, sendo compostos por materiais com elevadas taxas de reciclagem, como o vidro, além de se tratar de uma tecno- logia utilizada tanto em grande como pequena escala, acessível para uso doméstico e, portanto, é imposto pela UE que tanto os painéis, como os inver- sores e baterias sejam reciclados. Um painel fotovoltaico de silício, que representa 90% do mercado, é composto por 78%de vidro, 10%de alu- mínio, 7% de plásticos e 5% de metais e outros semicondutores, portanto, ao reciclar a componente de vidro e alu- mínio já foi recuperado mais de 80% do peso do painel. Desta forma, grande parte dos processos de reciclagemuti- lizados são já práticas desenvolvidas e recorrentes, o que leva a que o custo de reciclar umpainel não seja exorbitante, rondando os 200€ por tonelada 7 . Os processos atuais permitem que pelo menos 90% da massa do painel seja reciclada, no entanto, existem centros de tratamento que chegam a atingir uma taxa de recuperação de 95% dos materiais, como é o caso da unidade especializada em reciclagem de pai- néis fotovoltaicos da Veolia, a primeira unidade a surgir na Europa, que iniciou operação em 2018 8 . Posto isto, o início do percurso da cir- cularidade nas renováveis está lançado, mas ainda commuito por desenvolver. É necessário que sejamdisponibilizadas medidas legislativas que incentivem a adoção e desenvolvimento de novas práticas, de forma que a economia circular integre todo o setor renovável e este seja um dos principais motores para a descarbonização em todas as frentes. Ao aumentar o número de uni- dades especializadas no tratamento e reaproveitamento destes resíduos, será ainda um contributo do setor reno- vável para o crescimento do PIB e a criação de emprego, e aumento da competitividade da indústria europeia, bem como da competitividade do próprio setor em termos de custos de tecnologias, pois a normalização da adoção de práticas de reciclagem e reutilização mais indicadas para estes materiais, reduzirá também a dependência externa relativamente a matérias-primas. O setor renovável como um todo tem consciência da sua importância para descarbonização e, como tal, também da sua responsabilidade emminimizar os seus impactos, estando empenhado em congregar esforços para desen- volver com cada vez mais tecnologias commenos recursos eminimizar a sua pegada de carbono no final da sua vida útil. Os materiais que usamos hoje ao construir turbinas eólicas ou painéis solares afetarão diretamente como os reciclaremos no futuro. Portanto, com a primeira geração de equipamentos a chegar ao fim de vida operacional, o setor continua a trabalhar e priorizar a investigação e desenvolvimento que permita a expansão das tecnologias renováveis integradas numa lógica de economia circular. n 1 https://www.iea.org/reports/european-union-2020 2 https://www.un.org/sustainabledevelopment/sustainable-consumption-production/ 3 Comissão Europeia, 'Um novo Plano de Ação para a Economia Circular', 2020 4 Presidência do Conselho de Ministros, Resolução do Conselho de Ministros n.º 190-A/2017, 2017 5 PNEC 2030 6 WindEurope, 'Accelerating Wind Turbine Blade Circularity', 2020 7 UNEF, 'Estudio sobre el Estado del Arte del Reciclaje de Paneles Fotovoltaicos', 2020 8 SolarPower Europe, 'Solar Factsheets – Recycling', 2019
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