BI309 - O Instalador

OPINIÃO 49 Em 1992, aquando da realização da Conferência das Nações Unidas no Rio de Janeiro, o mundo vivia momentos de alívio. Estávamos num período em que não existia, aparentemente, nenhuma ameaça de uma guerra nuclear, havia uma mudança na agenda mundial, os países e as organizações internacionais estavam focados em apostar na promoção dos direitos humanos e na qualidade ambiental. O modelo financeiro e de desenvolvimento económico era colocado em causa e havia disponibilidade para introduzir novas formas de gestão, que em muito iriam auxiliar o crescimento global, a proteção social e a conservação dos recursos naturais – surge o conceito de desenvolvimento sustentável. Ao longo destes últimos 30 anos, muito foi feito para melhorar a qualidade ambiental do Planeta, para equilibrar os consumos, para controlar as emissões, para regular a gestão de resíduos, para tomar as opções mais sustentáveis. Não foi uma tarefa fácil, não houve consenso, não houve sempre o respeito pelas políticas ambientais definidas, nem sempre foram tomadas as melhores opções, mas uma coisa é certa: o Ambiente e o desenvolvimento sustentável entraramna agenda global. É hoje um tema que todos os gestores empresariais, os gestores de autarquias e os políticos sabem que têm que considerar em qualquer programa ou plano. Há ainda um caminho longo pela frente, em matéria de conservação da biodiversidade, de promoção dos modelos de gestão do carbono na atmosfera e na aposta das respostas e ferramentas que atuam enquanto sumidouros, no equilíbrio entre o consumo de recursos naturais e o descarte de resíduos, no respeito e gestão por forma a proteger os recursos hídricos, no combate à desertificação, entre muitos outros aspetos. Boa parte das expetativas estabelecidas em 1992 ainda não foram concretizadas, pelo que há uma nova oportunidade de mudança e reformulação do modelo financeiro a decorrer, o abandono do modelo linear e a escolha do modelo de economia circular. Mas acredito que a incerteza em que atualmente vivemos nos possa levar a questionar as escolhas, as expetativas e o próprio momento. A guerra estimula a produção de petróleo, a oscilação dos preços das matérias-primas, a escassez de alguns alimentos, a mudança de agenda política, a mudança de agenda energética e a ameaça social. O rendimento disponível das famílias está a descer e prevê-se que continue em queda, os preços dos alimentos e de outros recursos está a subir e prevê-se que continue a aumentar, as empresas estão já a sofrer dificuldades em obter matérias-primas e produtos, podendo mesmo ter que cessar alguma atividade a curto ou médio prazo, o comércio internacional tem sofrido muitas limitações e constrangimentos, o tema do armamento e energia nuclear voltou à agenda política mundial, assim como a aposta em fontes de energia baseadas no carbono, com os seus efeitos ao nível da emissão de gases com efeito de estufa (GEE). Entre os países e a população vive- -se, acima de tudo, um período de incerteza. Este quadro é a antítese do momento em que vivíamos em 1992, quando o mundo se uniu para colocar o tema “Ambiente” na agenda mundial. Esta incerteza será o maior desafio para os governantes, gestores políticos, autarcas e empresários, famílias e população em geral, para manter o foco na sustentabilidade. Continuar a apostar no novo modelo económico – o circular (à semelhança dos ciclos biológicos e naturais), manter as linhas de orientação, as estratégias e as políticas ambientais no atual quadro financeiro e social será um trabalho hercúleo, mas fundamental para a sobrevivência da espécie humana, onde é importante nunca esquecer o foco – o Planeta Terra é um Planeta único. n

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