71 RENOVÁVEIS Intervenção de emergência no mercado europeu de eletricidade A escalada da invasão da Ucrânia pela Rússia, principal fornecedor de gás natural da Europa, teve um impacto significativo em todo o sistema energético europeu. O preço do gás natural aumentou para valores sem precedentes, chegando a atingir um valor médio mensal superior a 162€/MWh, o que levou a um aumento do preço da eletricidade, devido à percentagem elevada do gás natural no mix energético europeu. A própria segurança de abastecimento energético foi colocada em risco, devido a toda a tensão existente entre a União Europeia e a Rússia, tendo sido necessário considerar outras opções de fornecimento de gás natural, o que também contribui para o aumento do seu preço, dado a procura urgente. Neste sentido, a Comissão Europeia lançou o REPowerEU, com os principais objetivos de reduzir rapidamente a dependência dos combustíveis fósseis russos, acelerar a transição para energias limpas, associada à poupança de energia e aumento da eficiência energética, e conseguir um sistema energéticomais resiliente. Assim, foram acrescentadas novas medidas às já existentes no Fif-for-55, mantendo o objetivo de reduzir em 55% as emissões até 2030 e neutralidade carbónica até 2050. Paralelamente à invasão, a fraca pluviosidade e as elevadas temperaturas registadas durante o verão por toda a Europa, levaram a um aumento do consumo de eletricidade para arrefecimento e, consequentemente, a uma maior necessidade de produção elétrica. No entanto, devido às condições meteorológicas, a produção hídrica atingiu valores mínimos históricos, e devido à seca, os países com produção nuclear também foram afetados, devido à falta de água disponível para arrefecimento dos reatores. Esta situação levou a que a incorporação renovável no mix energético fosse inferior, e foi necessária uma maior produção fóssil para a compensar, nomeadamente a gás natural e carvão. De facto, devido à reduzida capacidade de produção, a segurança de abastecimento e mitigação da volatilidade dos preços no mercado europeu apenas foi possível devido às trocas internacionais de eletricidade entre os Estados-membros. No entanto, existe o risco de a situação piorar no próximo inverno, com a provável continuação de disrupções no fornecimento de gás natural, e a diminuição da temperatura e aumento das necessidades energéticas para o aquecimento. Estes fatores poderão levar a um aumento ainda mais acentuado do gás natural, e impactar negativamente o preço da eletricidade. Neste sentido, a Europa assumiu a necessidade de uma intervenção no mercado da eletricidade europeu, através de um instrumento coordenado de emergência temporário, de forma a permitir atenuação dos preços da eletricidade, e ao mesmo tempo prevenir a introdução de medidas nacionais descoordenadas que Susana Serôdio e Ricardo Ferreira
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