BI315 - O Instalador

50 DOSSIER EFICIÊNCIA ENERGÉTICA EM EDIFÍCIOS Mas só isso não chega. Há que pensar nas tais medidas passivas (e mais estruturais). Ou seja, todo o setor tem de estar envolvido. “Sobre os distribuidores de equipamentos de climatização e setor de construção, ainda estamos a mapear os atores nacionais e a realizar estudos para compreender a realidade nacional porque é o interesse de todos, um futuro sustentável e que todos estejamos alinhados com os objetivos de neutralidade climática até 2045, como anunciou o governo como meta nacional no final do ano de 2022”, afirma a ambientalista da Zero, que acrescenta que a associação já notou um grande alinhamento de empresas que estão no caminho de deixar a venda de tecnologias com base nos combustíveis fósseis. “No entanto, a construção ainda é uma área cinzenta e que estamos a tentar unir esforços com outras organizações/entidades e até compreender as necessidades do setor e a da sociedade para avançarmos juntos rumo à neutralidade carbónica”, constata. Qual a solução? A resposta pronta de Islene Façanha é: “Deitar abaixo o velho para refazer novo, não é solução. A prioridade é reaproveitar e/ou renovar o que já existe, dentro do possível, e só depois passar para o novo”. A explicação é simples. Os materiais de construção têm uma pegada ecológica muito pesada. “Estamos a falar de materiais que consomem 1/3 de toda a água que consumimos e são responsáveis por 280 milhões de toneladas de CO2 por ano. Materiais como o cimento, o aço, o alumínio e o plástico são a causa de 80% destas emissões”, explica, acrescentando que estes materiais estão inseridos nas nossas casas, passam despercebidos, mas a sua produção tem uma pegada muito significativa e negativa para o ambiente. É por isso mesmo que devemos ter cuidados extras e tentar aumentar, na medida do possível, o seu tempo de vida útil, em vez de simplesmente comprar outros novos. No caso dos edifícios isso passa por apostar na renovação dos edifícios existentes em detrimento das demolições dos mesmos. “Por outro lado, é importante ter em conta que atualmente os resíduos de construção e demolição já constituem 1/3 de todos os resíduos produzidos na UE. E a maior parte deles não é devidamente reutilizado. Acabam muitas vezes para enchimento de pedreiras, ou em casos mais extremos, ao abandono em zonas urbanas. Estamos a deitar fora materiais valiosos, e que nos custaram tanto a produzir”, acrescenta Islene Façanha. ECONOMIA CIRCULAR Uma solução possível é a de a construção, também ela, recorrer ao princípio da economia circular. Como lembra a ambientalista da Zero a Comissão Europeia, prevê-se que as medidas de prevenção dos resíduos, conceção ecológica, reutilização e outras ações de economia circular possam gerar poupanças de cerca de 600 mil milhões de euros às empresas da União Europeia (cerca de 8% do total do seu volume de negócios anual). “E soluções disponíveis vão das fibras de madeira, cortiça até a palha como isolamento térmico. Acho que as opções no mercado estão a evoluir e há opções para vários orçamentos”, aponta. A par disso há ainda, refere Islene Façanha, a abordagem dos edifícios reversíveis, que são edifícios projetados e construídos de uma forma que são facilmente desmontados empeças ou componentes menores, independentes, sem causar danos a outras peças e materiais do edifício. Deste modo, os materiais são usados de uma forma mais eficaz. O desperdício é evitado e o tempo de vida útil dos componentes do edifício é prolongado. Este conceito não se é só para novos edifícios, mas também para edifícios a passarem por renovação. OS DESAFIOS EXTRA DOS EDIFÍCIOS EMPRESARIAIS Poder-se-ia dizer que a situação é mais ou menos controlada nas habitações residenciais. Os espaços são mais pequenos e há um maior controlo (individual). Então e os espaços comerciais ou de escritórios? Como assegurar simultaneamente a eficiência energética e o conforto térmico em edifícios como os centros comerciais? É claro que cada caso é um caso e cada empresa gestora do espaço define a sua própria estratégia. No caso específico da Nhood, entidade gestora dos Centros Comerciais Alegro, a empresa tem vindo a desenvolver planos estratégicos de redução de energia co-construídos com os lojistas e a reforçar a partilha de boas práticas no que se refere à eficiência energética. Os centros têm GTC (Gestão Técnica Centralizada), onde todos os sistemas de climatização e iluminação são geridos por um software, com horários de funcionamento estabelecidos e arranque dos sistemas de climatização adaptado aos set points ou temperaturas definidas. Como explica João Jesus, Head of Sustainability and Operations da Nhood, estes sistemas garantem também uma monitorização energética diária para controlo e otimização dos consumos, para além de outras especificidades. A par disso a empresa tem cuidado na escolha dos equipamentos. Estes, quer seja de climatização ou iluminação, são definidos por projetistas e através de estudos prévios de eficiência energética. “Atualmente, este tipo de análise prévia torna-se crucial para garantir a transição energética e alcançar a neutralidade carbónica em 2040”, afirma João Jesus, que lembra que os equipamentos que existem no mercado à nossa disposição são cada vez mais eficientes, seja para climatização, iluminação ou outros equipamentos como escadas rolantes e elevadores. n

RkJQdWJsaXNoZXIy Njg1MjYx