OPINIÃO 68 Este processo de transição para a neutralidade climática, para além dos contributos que oferece do ponto de vista da proteção e promoção da saúde e do ambiente, vem trazer oportunidades significativas do ponto de vista social, tais como potencialidades em termos de crescimento económico, de novos modelos de negócio e de novos mercados, de novos empregos e de desenvolvimento tecnológico. Curiosamente, a Europa e os seus estados membros, vivem atualmente uma vaga de renovação do seu edificado, que tem vindo a ser acompanhada de medidas que mostram que a inclusão social na recuperação económica e da transição ecológica deste setor é uma realidade, o que se verifica pela duplicação das taxas de renovação relacionadas coma energia na UE até 2030 e pelas medidas de adoção do edificado nestas renovações, bem como à oportunidade de os tornar resilientes às alterações climáticas, proporcionando uma redução do consumo de energia e das emissões de gases com efeito de estufa, com o aumento do desempenho ambiental. Este ajuste dos edifícios com a substituição das tecnologias de aquecimento e arrefecimento de alta intensidade carbónica, ou ineficientes em termos energéticos no momento da sua renovação gera poupanças de recursos, namedida em que melhorando a qualidade térmica e a eficiência do edificado resulta na redução da procura de energia. Tal deve ser acompanhada da integração de soluções eficientes do ponto de vista energético e da utilização de energias renováveis, promovendo a qualidade ambiental dos edifícios. Combinar as opções de renovação do edificado comamelhoria da qualidade ambiental domesmo, vinculando estas opções da promoção da eficiência energética, da substituição de materiais poluentes e cancerígenos (como o caso do amianto) por materiais mais * Especialista Sénior em Sustentabilidade (Gestão de Resíduos e Ambiente) Doutoranda emEngenharia do Ambiente no IST (investigadora na área do amianto) Fundadora e Presidente da SOS AMIANTO - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto Autora do livro "Não Há Planeta B: Dicas e Truques para umAmbiente Sustentável" Conselheira do CES - Conselho Económico e Social, pela CPADA, em representação das Associações Nacionais de Defesa do Ambiente saudáveis, ou da substituição das tecnologias de aquecimento e arrefecimento por soluções mais adequadas, veiculando-as para que as mesmas permitam aceder ao financiamento disponível para estas renovações, como se trata-se de um subsídio ecológico, com incentivos fiscais ou o acesso a empréstimos “verdes”, num regime de obrigação de poupança de energia, seria certamente a medida mais eficaz no panorama mundial atual e nas dificuldades que iremos enfrentar no futuro. É aqui que o programa “Mais habitação” perdeu uma grande oportunidade. Este programa, para além de promover ummaior e mais diversificado acesso à habitação, promove o apoio à renovação do edificado ou a novas construções. Qualquer incentivo à reabilitação ou construção deverá ser assente em medidas “verdes” que garantam a sustentabilidade e eficiência destas intervenções, ajustando-as às necessidades e dificuldades atuais e futuras de acesso à energia, promoção da qualidade ambiental e eficiência de recursos. A reabilitação ou novas construções terão que ser assentes nos pilares da sustentabilidade. A escolha demateriais mais eficientes e menos impactantes, devendo inclusive promover benefícios ou reduções fiscais que os diferenciem dos outros materiais, a substituição de materiais poluentes e menos eficientes por soluções mais eficazes e mais saudáveis, bem como a renovação e adaptação da tecnologia por soluções mais eficientes, são algumas das soluções que deveria nortear esta fase de renovação do edificado, bem como prepará-los para os desafios atuais e futuros de escassez de recursos, aumento acentuado da inflação, seca e instabilidade na disponibilidade de energia. n
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