OPINIÃO 57 Contudo, o valor das perdas já passa para 31 mil milhões de euros anuais se a temperatura aumentar 2°C, e será estimado em 45 mil milhões de euros se a temperatura subir 3°C. Repare-se que a questão do stress hídrico começou a colocar-se com maior acuidade em 2018, ano a partir do qual metade da Europa começou a ser vítima de situações de seca extrema, tanto no Verão como no Inverno, o que é ainda mais paradoxal. De acordo com o mesmo estudo, os fenómenos extremos relacionados com o tempo e o clima causaram perdas económicas estimadas em 560 mil milhões de euros na União Europeia entre 1980 e 2021, dos quais apenas 170 mil milhões de euros (30%) estavam cobertos por seguros. No mesmo período, quase 195 mil vítimas mortais foram causadas por inundações, tempestades, vagas de calor e de frio, incêndios florestais e deslizamentos de terras na UE. Em Portugal a situação neste momento é esta: 89% do território está em situação de seca e 34% em seca severa e extrema (Alentejo e Algarve). A resposta passa por vários aspectos que devem ser considerados em conjunto. Verdade seja dita que, apesar de tudo, ainda somos privilegiados porque temos acesso a água potável. Inclusive, o nosso gasto médio diário por habitante é de 190 litros, quando as necessidades básicas de água poderiam ser satisfeitas com 110 litros por dia e por habitante. Ou seja, cada um de nós gasta todos os dias mais 80 litros de água do que precisaria. Multiplicando por uma população que andará, grosso modo, em torno dos 10,5 milhões temos uns impressionantes 840 milhões de litros de água a mais e que poderiam não ser gastos. Isto por dia e por habitante e só em Portugal. Esta situação é ainda mais grave quando ocorre escassez de água em muitas partes do mundo. A este propósito refira-se o Relatório publicado pela UNESCO emnome da UN-Water e divulgado no passado dia 23 de março na UN 2023 Water Conference, em Nova Iorque, e segundo qual dois mil milhões de pessoas (26% da população) não têm acesso a água potável e 3.6 mil milhões (46%) vivem em zonas sem serviços de saneamento. A solução passará pela conjugação da redução do consumo com a melhor gestão da oferta de água. A redução do consumo implica, nomeadamente, a reposição das espécies endógenas locais, em detrimento de outras que o não são e por isso consomemmais água, e o uso de técnicas e métodos mais eficientes do ponto de vista do consumo de água. Ainda no plano da agricultura, também ajudaria que fossem introduzidos
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