92 RENOVÁVEIS Em qualquer dos modelos referidos, é sempre o agricultor que fica encarregue da gestão das atividades agrícolas, mas variando entre eles a responsabilidade em aspetos como a administração de custos e riscos, geração de proveitos e benefícios, e a gestão do sistema PV. Deste modo, todos são aplicáveis desde a pequena à grande escala, à exceção do modelo de total propriedade e gestão pelo agricultor que, dados os conhecimentos técnicos específicos necessários à componente solar, é viável apenas numa pequena escala. Sendo que o produtor de energia irá obter receitas através da venda da eletricidade, o agricultor (ou o proprietário do terreno) poderá aderir a outros esquemas. Desde os mais tradicionais, como a exploração e venda da produção agrícola, até outras fontes complementares, como rendas pela utilização dos terrenos por terceiros (fixas ou conforme a potência instalada ou a energia produzida), podem ser aproveitadas durante a fase de operação do projeto agrisolar. Também durante a fase de construção é possível aplicar uma remuneração que possa compensar o agricultor por quaisquer quebras na atividade produtiva. Além disto, o agricultor pode ainda ser contratado para fins de manutenção (p.e. controle de vegetação ou limpeza de módulos), ou receber novos equipamentos e infraestruturas (p.e. sistemas de irrigação ou remoção de amianto), assim como obter reduções na sua fatura través do autoconsumo ou beneficiar de receitas adicionais caso invista no projeto, por exemplo, através de crowdfunding aberto ao investimento comunitário. BENEFÍCIOS E RISCOS Embora alguns aspetos sejam já promovidos em certas configurações de centrais fotovoltaicas convencionais, a integração estratégica do PV com as práticas agrícolas por si só pressupõe potenciais incrementos ao nível da resiliência ecológica, da promoção da biodiversidade e na produtividade dos terrenos. Mesmo não existindo ainda registos suficientes que permitam verificar toda a gama de benefícios, dependendo do tipo de agricultura praticado e da configuração do sistema PV, poder-se-á registar uma maior presença de espécies vegetais e florais no local, atrair e abrigar a fauna local (em particular polinizadores), reduzir perturbações no solo e aumentar a sua capacidade de captura de CO2 e de retenção de água. Por outro lado, além de proporcionar a formação de um microclima que estimule o crescimento de alguns tipos de culturas, a zona por debaixo dos painéis proporciona proteção às culturas contra eventos climáticos, irradiação solar e temperatura excessivas, e ajuda a reduzir a evapotranspiração. Claro está que diferentes espécies cultivares exigem requisitos ambientais distintos para uma maior produtividade ou para a manifestação de determinadas características (p.e. produção de vinho), pelo que o dimensionamento cuidado é essencial para o sucesso do projeto agrisolar. O arranjo e espaçamento entre módulos e a possibilidade de controlar a sua inclinação é um dos fatores cruciais a ter em conta, dado que impacta diretamente na quantidade de radiação solar que incide nas culturas. Contudo, medidas adicionais devem ser aplicadas para minimizar outros riscos inerentes a este tipo de iniciativa. Evitar escavações excessivas e uso de produtos nocivos na fase de instalação, introduzir elementos de paisagem para aliviar o efeito de fragmentação de habitat, e monitorizar continuamente variáveis relacionadas com as espécies e o ambiente, assim como de microclima que possam atrair pragas, são algumas medidas de mitigação a considerar.
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