74 DOSSIER SMART CITIES classificação contante desta etiqueta seja capaz de reconhecer diferentes perfis ou tipologias urbanas e que seja, por isso, justa, no sentido em que não penalizará maiores consumos de energia ou emissões de gases de efeito de estufa resultantes de diferenças estruturais entre as cidades. A primeira parte do trabalho assentará num levantamento da diversidade de fatores que influenciam o uso de energia em contexto urbano, e dos seus respetivos indicadores. Tais fatores poderão incluir aspetos como a configuração do ambiente construído e dos espaços verdes, os consumos e desempenho do parque edificado e dos transportes, digitalização (enquanto facilitador de maior eficiência), educação e literacia energética, paisagem política e regulatória, entre ouros. Simultaneamente, é fundamental que a eficiência energética seja articulada com princípios de economia circular, uma vez que a transição energética implica frequentemente um aumento da procura de materiais e da consequente geração de resíduos (por exemplo para isolamento de edifícios, painéis solares, baterias automóveis, etc…). O levantamento a executar pretende ser tão abrangente quanto possível, de modo a capturar as principais dimensões relevantes, que simultaneamente estejam dentro do domínio e âmbito de atuação municipal, de forma a dar direções e recomendações concretas, de forma a possibilitar aos decisores e autoridades locais implementar medidas de melhoria nas dimensões com maior potencial. Por outro lado, a diversidade de fatores a ter em conta e a complexidade inerente dos sistemas urbanos representa um desafio para a avaliação e medição do desempenho energético urbano. Por este motivo, a metodologia a desenvolver será apoiada em técnicas de inteligência artificial, capazes de encontrar padrões em grandes bases de dados e interpretar sistemas complexos. Pretende-se ainda que o trabalho desenvolvido seja ancorado numa forte interação com atores locais e nacionais, de forma a perceber os principais desafios e necessidades, aquilo que valorizam e como é que uma etiqueta de desempenho urbano poderia facilitar a transição energética das cidades portuguesas. Dado o papel chave das cidades na transição energética, espera-se que este trabalho venha a contribuir para encetar um mecanismo de avaliação sistemático do desempenho energético das cidades, e que este seja visível e comunicado de forma clara, objetiva e transparente aos cidadãos, empresas, turistas e investidores, de maneira a que passe a constituir um critério de decisão para estes stakeholders. Desta forma, representa também um incentivo à promoção de cidades mais sustentáveis e responsáveis social e ambientalmente. O CONTRIBUTO DO INEGI ALÉM DA AGENDA ALIANÇA PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA Ao longo das últimas décadas, o INEGI tem apoiado os municípios, diretamente ou através da colaboração com as agências de energia locais, na transição para a neutralidade carbónica. São exemplos desse trabalho, a elaboração de matrizes energéticas e planos de ação para o desenvolvimento sustentável, assim como com a realização de estudos para melhorar a eficiência de edifícios municipais. Além disso, a participação em projetos de investigação e desenvolvimento nacionais e internacionais, como o CircEUlar e o DECARBONIZE, tem permitido ao INEGI contribuir de forma ativa para o avanço do conhecimento científico e para a definição de boas práticas no domínio da transição energética e das smart cities. Este percurso consolidou metodologias que agora são transpostas para soluções acessíveis e escaláveis, ao serviço das cidades portuguesas. O caminho para cidades mais inteligentes e sustentáveis exige não apenas tecnologia, mas também visão estratégica e ferramentas adaptadas à realidade nacional. Portugal tem vindo a dar passos consistentes nesta direção, através de projetos que posicionam os municípios como protagonistas da transição energética. n Mafalda Silva, investigadora sénior no INEGI, coordenadora Técnico-Científica da Etiqueta Energética das Cidades. AGENDA ALIANÇA PARA A TRANSIÇÃO ENERGÉTICA https://aate.pt/ “Falta criar mecanismos que apontem direções concretas de melhoria nas cidades
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