OPINIÃO 86 Carmen Lima* Consultora para a Sustentabilidade * Consultora para a Sustentabilidade. Doutoranda em Engenharia do Ambiente no IST, investigadora na área do Amianto. Presidente da SOS AMIANTO - Associação Portuguesa de Proteção Contra o Amianto. Autora do livro “Não Há Planeta B: Dicas e Truques para um Ambiente Sustentável”. Foi Conselheira do Conselho Económico e Social. Vivemos realmente em comunidades inteligentes? A ameaça global ao Planeta é uma evidência reconhecida por todos, e assumida pela ONU através da criação de programas ambientais que visam monitorizar o estado do ambiente, sensibilizar povos e nações para as ameaças aos habitats naturais e recomendar medidas que melhorem a qualidade de vida sem comprometer os recursos das gerações futuras. Este princípio está no cerne da construção de comunidades sustentáveis e inteligentes – Smart Cities, que pretendem equilibrar o bem-estar social, a justiça económica com a proteção ambiental. Mas o olhar esta nova abordagem de cidade tem que estar assente em pilares sólidos, na procura de respostas concretas e de compromissos, que respondam verdadeiramente às necessidades das comunidades e não apenas “bandeiras” que se erguem para mostrar o que parece, mas na realidade não o é. Num período como o atual, onde as campanhas eleitorais estão sob a nossa perspetiva, torna-se claro que muitas delas já incluem medidas importantes para promover a sustentabilidade em comunidade, quando apresentam soluções para reduzir o desperdício, privilegiar o uso de materiais reutilizáveis ou recicláveis, promover novas formas de mobilidade e do uso dos espaços, optar por soluções de comunicação mais responsável. Contudo, outros programas são quase uma listagem de critérios que “devem” estar para parecer que a sustentabilidade também faz parte do “pacote”. Mas as Comunidades Inteligentes existem mesmo? Ou o que urge é a necessidade de dedicar um esforço coletivo para internalizar aspetos de as tornar mais sustentáveis, sem que para isso tudo pareça mais tecnológico, mais moderno ou mais complexo. Construir comunidades sustentáveis é desenhá-las e aliá-las à simplicidade do modelo que a natureza nos ensina, numa simplicidade que até estranha - vidas com menor impacte ambiental implica unir organização coletiva e escolhas individuais: no plano comunitário, isso traduz-se em cidades que favoreçam a proximidade, com habitação integrada, transportes públicos acessíveis, ciclovias seguras, espaços verdes que promovam bem-estar e convivência, economia local e circular, e participação cidadã ativa; no plano individual, a sustentabilidade nasce da simplicidade — consumir menos e melhor, reduzir desperdícios, valorizar o essencial, partilhar recursos e viver de forma mais ligada à comunidade e aos espaços naturais.
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