OPINIÃO 89 de esperar quando, em futuro próximo, entrarem em serviço, segundo se prevê, aviões com a capacidade de 450 passageiros. Impõe-se, portanto, enfrentar o problema rapidamente, tanto mais que o País não pode perder a posição privilegiada que tem quanto às comunicações aéreas, quer no plano internacional, quer no plano interno, como consequência da distribuição geográfica do seu território por vários continentes e da situação da metrópole na periferia atlântica da Europa. Em duas palavras: mais turistas e mais turismo. Nós que vivemos em 2025 temos o conhecimento directo do resultado prático desta opção. Vive-mo-lo na pele e na carteira. As ruas saturadas, as esperas nos espaços de restauração e similares, o estacionamento caótico, o aumento exponencial dos preços, as filas nos museus e espaços culturais, a expulsão dos lisboetas da cidade, os hotéis em cima uns dos outros e as próprias filas no aeroporto em si mesmo são causas para a degradação da qualidade de vida de Lisboa. Dos que ainda cá conseguem viver, e dos que cá vêm. E também da degradação da própria experiência turística. Basta ver por exemplo as enxurradas de visitantes que saem dos cruzeiros, parqueados em plena Baixa Alfacinha, em busca do souvenir, do very typical. De um fadunçho mal amanhado pelos empregados que cantam, servem às mesas e ainda dançam o vira ou corridinho desde que renda. Como disse há mais de 40 anos Francisco Lucas Pires, Portugal é “o INATEL da Europa”. Nada contra se quiser que o nosso desenvolvimento seja feito com base num modelo quantitativo em vez de qualitativo. Sejamos claros, não se trata de limitar o turismo aos ricos, até porque estes não são garantia de respeito pela autenticidade de uma cidade. Vejamos o caso, a todos os títulos infeliz, de Veneza, com barcos-cidade a atracarem quase na Praça de São Marcos e que há tão pouco tempo foi “alugada” para o casamento de Jeff Bezos. A Veneza que defendo é La Serenissima, de Canelleto a Mr Ripley, não uma espécie de Disneylandia, com inclusive acesso pago mediante torniquetes, tal e qual como nos parques de diversão. Da mesma forma que Lisboa, não pode nem deve tornar-se numa espécie de um novo Portugal dos Pequenitos, limitado pelo triângulo Belém-Chiado-Parque das Nações. Com tudo isto o que pretendo dizer é que antes de pensar nas questões inerentes a um novo aeroporto, dever- -se-ia ter pensado na sua efectiva necessidade em função dos custos e benefícios para a Área Metropolitana de Lisboa de uma estrutura cujo sentido é apenas trazer mais gente para Lisboa, E isto é assim desde há 57 anos. Umas quantas gerações. Felizmente, esta coisa muito portuguesa de nos perdermos em estudos e diagnósticos tem tido a vantagem prática de evitar a consumação do novo aeroporto e apenas por esse motivo, ainda vamos a tempo. O aumento do número de passageiros é inevitável em resultado da conjugação de três factores: mais população, mais rendimento per capita disponível, preços mais baixos dos bilhetes, graças às companhias low cost, ultra low cost e charters.
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