22 PERFIL PASSAPORTE DIGITAL DO PRODUTO Como sublinhou João Pedro Pinto, partner da Aliados Consulting, “o Digital Product Passport é um dos instrumentos mais transformadores da política europeia de sustentabilidade. Com estas ferramentas pioneiras, Portugal dá um passo decisivo para se posicionar como referência europeia na aplicação prática do DPP, apoiando as empresas a cumprir os requisitos europeus e a transformar desafios em oportunidades de inovação e competitividade”. O encontro incluiu dois painéis de debate dedicados ao ‘Ecodesign e Inovação de Produto’ e à ‘Medição e Comunicação do Impacto Ambiental’, moderados pelo BCSD Portugal, e que contaram com a participação de representantes da Sonae MC, Silvex, Instituto Politécnico de Setúbal, Vigobloco, 3XP Global e IAPMEI. Na perspetiva de Fernando Cunha, do IP Setúbal, a indústria portuguesa tem-se preparado muito bem para a transição digital e a Academia tem cumprido o seu papel de validação dos dados. O problema hoje é que é preciso “integrar a ecoefetividade com a ecoeficiência”, ao mesmo tempo que se garante “a verificação da resistência” dos materiais. “Escolher o material saudável, a energia adequada e a resiliência é fundamental para que os ecossistemas se possam manter, mesmo perante os problemas de abastecimento”, advoga o docente. Natércia Garrido, da Silvex, defende que o DPP constitui uma “oportunidade para desmistificar a corrente anti-plástico e combater o greenwashing”, permitindo “avaliar o impacto do fim de vida” de cada produto. Para a especialista, que iniciou a sua carreira na área da extrusão de filme e é defensora da reciclagem há largos anos, os principais desafios no setor do plástico são a qualidade do material reciclado e a sua disponibilidade, o que afeta a competitividade e requer “uma estratégia comunitária comum”. Recordando que “no material virgem a pegada ecológica é 20 vezes superior”, a responsável da Silvex concluiu que “é preciso reciclar em quantidade e em qualidade”. A incorporação do ecodesign nos produtos da Sonae MC é “um conceito muito disseminado na empresa”, garante Marlos Silva. Segundo o responsável, nos últimos seis anos os produtos de marca própria da Sonae, na área alimentar, têm sofrido transformações INFORMAÇÕES GENÉRICAS A INCLUIR NOS DPP A atual proposta do ESPR considera como as informações genéricas a serem incluídas em todos os Passaportes Digitais de Produto: • Durabilidade • Confiabilidade • Reutilização • Capacidade de atualização • Possibilidade de reparação • Manutenção e remodelação • Presença de substâncias preocupantes • Eficiência energética • Eficiência de Recursos • Componentes reciclados • Remanufatura e reciclagem • Recuperação de materiais • Impactos ambientais – pegada de carbono • Produção expectável de resíduos. sucessivas para integrar materiais mais ecológicos e sustentáveis, um processo que se realiza “com muita parceria com a Academia” e numa lógica em que “as decisões são tomadas com base no menor impacto ambiental” dos materiais utilizados, estratégia que complementa a tecnicidade dos processos. Em conclusão, e nas palavras de Fernando Cunha, a estrutura que está implementada produz “zero eficiência, porque temos um único fluxo” que gera “uma falsa sustentabilidade”. Pelo que o futuro tem de passar por “transições reais e contrárias à ideia de que o ciclo fechado de materiais é que é bom”. Transição digital, sustentabilidade e ecodesign “são temas multidisciplinares” e “que devem ser tratados nos programas curriculares”, sublinhou ainda o professor. Fica o desafio, num contexto de mudança em que a preparação de Portugal para o Passaporte Digital do Produto requer, simultaneamente, inovação tecnológica, capacitação dos recursos humanos e uma relação direta entre a indústria e a academia. n
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