BJ28 - Novoperfil Portugal

Entre a investigação e a indústria, a convergência é clara: a construção do futuro será conectada, transparente e preditiva 36 PERFIL DIGITAL TWINS E REALIDADE AUMENTADA evolução, a Reynaers já disponibiliza modelos BIM em formato IFC (Industry Foundation Classes, o formato aberto e normalizado de partilha de modelos BIM), que podem ser importados para o seu sistema ReynaPro – uma plataforma CPQ (Configure, Price, Quote) que garante correspondência rigorosa entre o projeto digital e a solução real fabricada. Quando o projeto o exige, o modelo pode ser carregado diretamente no gémeo digital, ficando acessível através do código QR do produto instalado. “O próximo passo será a ligação automática entre o modelo BIM e o digital twin, criando um ecossistema totalmente integrado e dinâmico”, antecipa a responsável. Esta aproximação entre o mundo físico e o digital começa a traduzir-se em métricas concretas. Na Reynaers, o retorno do investimento mede-se sobretudo pela proximidade com o cliente e pela melhoria contínua baseada em dados reais. A recolha e análise de informação proveniente do uso efetivo dos produtos – desde as dimensões aos contextos de aplicação ou condições ambientais – permitem otimizar o design e o desempenho futuro das soluções. “O DigiTrace materializa o nosso compromisso com a sustentabilidade de todos os ângulos”, resume Marta Ramos, destacando a rastreabilidade, a durabilidade e a transparência como pilares centrais. INVESTIGAÇÃO E NORMALIZAÇÃO COMO BASES PARA A MATURIDADE DIGITAL Enquanto as empresas avançam na digitalização da envolvente, a investigação nacional prepara o terreno metodológico e normativo. No CERIS/IST, os trabalhos em interoperabilidade, modelação semântica e Sala Avalon. © Reynaers Aluminium. metodologias BIM orientadas ao ciclo de vida têm sido decisivos. “Trabalhamos o BIM não como mero instrumento de projeto, mas como núcleo estruturante de informação, capaz de incorporar simulação avançada, avaliação de ciclo de vida e analítica computacional”, refere António Aguiar da Costa. A RA surge, assim, como extensão natural dessa lógica, aproximando o modelo da realidade física e permitindo inspeções assistidas, validação geométrica e apoio técnico no local. Projetos como o REV@Construction, o Circular EcoBIM e o Digital4Health consolidaram esta base metodológica, introduzindo modelos BIM enriquecidos com dados de desempenho, circularidade e impacto ambiental. Na envolvente do edifício, estas ferramentas abrem caminho a gémeos digitais orientados à operação eficiente e à sustentabilidade, fundamentais para atingir metas de descarbonização e economia circular. O investigador sublinha ainda a relevância da normalização europeia e da proposta de atualização da Portaria 255/2023, fundamentais para enquadrar a digitalização do setor e garantir coerência regulatória. Mas os desafios permanecem: a inter- -operabilidade entre plataformas, a definição de protocolos de atualização e a maturidade digital desigual do setor. “O Plan4Digital mostrou-nos um setor em evolução, mas com maturidade muito desigual”, reconhece o investigador do Técnico. Digitalizar, diz, “é construir capacidade institucional”. O caminho faz-se com regras claras, métricas de maturidade, formação e políticas públicas consistentes que consolidem uma cultura de dados e integração. A envolvente do edifício, pela sua complexidade técnica e relevância energética, é hoje um laboratório privilegiado para esta transformação. Entre a investigação e a indústria, a convergência é clara: a construção do futuro será conectada, transparente e preditiva. E cada janela, fachada ou sombreamento poderá, em breve, contar a sua própria história, em tempo real, no respetivo gémeo digital. n

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