BJ28 - Novoperfil Portugal

PERFIL 51 REPORTAGEM | APAL energia e da academia convergiram numa ideia central: o alumínio é o material que pode garantir o equilíbrio entre desempenho, durabilidade e neutralidade carbónica. A sua reciclabilidade ‘infinita’ e o peso leve tornam-no uma peça-chave na descarbonização das cidades, na eficiência energética dos edifícios e na competitividade da metalomecânica europeia. A abrir o painel, Paul Warton, presidente da European Aluminium, respondeu à questão do moderador sobre se o mecanismo Carbon Border Adjustment Mechanism (CBAM) da Comissão Europeia está a proteger eficazmente os produtores contra importações com uma elevada pegada de carbono com um rotundo não. “De forma alguma!”, disse, considerando que “é uma coisa terrível para se dizer nesta indústria”, mas, infelizmente, é a realidade. "A boa notícia é que esta é reversível, mas de momento, e tal como o CBAM está elaborado, é uma catástrofe", reiterou. Na teoria, os princípios deste mecanismo são corretos, deveriam proteger a indústria e reduzir o carbono sem impactar a competitividade. Mas infelizmente, pela forma como está escrito, não faz nada disso, detalhou Warton. Em suma, “se nos tornamos menos competitivos, desindustrializaremos a Europa e importaremos materiais com elevado teor de carbono”, o que “não é positivo para o planeta”. Na sua opinião, a principal solução para inverter esta situação é implementar efetivamente o ciclo de resíduos. Mas “a indústria tem de agir”, alertou o presidente da European Aluminium. Afirmando a sua confiança no futuro do setor do alumínio em Portugal, Paul Warton destacou o investimento em tecnologias de fusão com hidrogénio verde e processos de extrusão com energia renovável. A propósito, Paul Voss, diretor-geral da European Aluminium, abordou o desafio energético, defendendo “energia limpa e eficiência industrial”. Para Voss, a UE tem “realmente boas intenções relativamente à descarbonização da indústria europeia, mas o problema está na sua implementação. Aquilo que parecem ser muito bons princípios resulta em grandes problemas na prática”. Temos de nos focar em resolver esses problemas, caso a caso, e “mais além da reparação dos danos”. Quanto ao alumínio, o responsável acredita que este é o material da transição energética, mas deixa um apelo taxativo: ao contrário das tradicionais normas que aceleravam o desenvolvimento do comércio livre para estimularem as exportações a partir da Europa (com o objectivo de incrementar os negócios dos seus países), o que precisamos atualmente é de um “orçamento seguro para o alumínio, como o aço teve nos últimos anos”, defendeu Paul Voss. Aline Guerreiro, especialista em sustentabilidade e CEO do Portal da Construção Sustentável, deixou uma mensagem clara: o alumínio é o exemplo perfeito de um material sustentável. “Como já se disse, o alumínio é um material infinitamente reciclável”, ao passo que “o PVC é reciclável em downcycling”. E a sua vantagem é que "de uma janela velha podemos pegar no alumínio e fazer uma janela completamente nova, com as mesmas caraterísticas do alumínio extraído diretamente para a fazer”. Poderá pensar-se: "mas o alumínio tem imenso consumo energético na sua produção... sim, tem. Mas a sua reciclagem tem uma menor pegada em termos de emissão de carbono, uma vez que só necessita de 5% da energia que foi necessária para produzir o alumínio novo". Isto vai reduzir a sua pegada e, de resto, por imposições globais, a indústria está a adaptar-se ao uso de energias renováveis, acrescenta Aline Guerreiro”. Neste caso, “temos um material quase 100% sustentável”, sublinha. É que “o infinitamente reciclável tem precisamente a ver com o facto de não perder características ao longo do ciclo de vida do produto”. Neste contexto, a circularidade só é plena se houver recolha e reciclagem eficientes e utilização de renováveis. Alertando para o impacto da urgência climática na reciclabilidade do alumínio, o presidente da Associação Zero, Francisco Ferreira, deixou, como habitualmente, uma nota de sensibilização: “estamos no mau caminho. De acordo com dados críticos sobre recolha e gestão de resíduos em Portugal, divulgados pela APA - Agência Portuguesa do Ambiente no início de outubro, aumentámos a nossa produção de resíduos urbanos de 2023 para 2024 em 4%. E 75% dos resíduos que recolhemos são indiferenciados. Claro que os metais são uma fatia muito pequena (1,4%)”. Mas naquilo que são as metas ambientais nacionais, traçadas pela legislação europeia, “e ainda bem, ou estaríamos muito pior”, os objetivos de reciclagem de resíduos urbanos que temos são de 55% para 2025, de 60% para 2030 e de 65% para 2035. “E estamos em 37%, lamenta Francisco Ferreira. "Falta falar do maior desafio: estes resíduos em grande parte estão a ir para aterro. Temos a meta de depositar em aterro apenas 10% dos resíduos urbanos, em 2035, e atualmente estamos a colocar lá mais de 52%”. Na era da sustentabilidade o alumínio é o motor circular da construção e da energia

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