ENTREVISTA 67 PERFIL Fala-se muito em transição digital e descarbonização da economia. Emque consiste exatamente e que avaliação faz da prestação da Europa no geral e de Portugal em concreto? Para cumprir os objetivos do Green Deal de diminuir as emissões de Gases com Efeito de Estufa em, pelo menos, 55% até 2030 e alcançar a neutralidade carbónica até 2050, a dupla transição verde e digital exige que o sistema de energia seja mais eficiente, inteligente e integrado, garantindo preços de energia acessíveis e uma transição justa e coesa. A transição verde e digital deve beneficiar todos, centrando as pessoas na formulação das políticas públicas e garantindo que desempenham um papel ativo nos mercados de energia. A digitalização de cada etapa da cadeia do sistema de energia é fundamental para cumprir este desígnio. O último relatório do Índice de Digitalidade da Economia e da Sociedade (IDES), da Comissão Europeia, confirma que todos os Estados-membros da UE realizaram progressos no domínio da digitalização, mas alerta que o panorama nos Estados-membros é heterogéneo e que estes terão de forma concertada, de se esforçarem para alcançar as metas para 2030 da Década Digital da Europa. Portugal destaca-se pela positiva, com uma subida de três lugares relativamente aos resultados do relatório de 2020, ocupando agora o 16º lugar entre os 27 Estadosmembros da UE, o que mostra os esforços realizados no desenvolvimento digital da sociedade e da economia nacional. É de notar que os dados do IDES 2021 ainda não refletem os efeitos da Covid-19 sobre a utilização e a prestação de serviços digitais e os resultados das políticas desde então aplicadas, pelo que se espera que os resultados do IDES 2022 sejam globalmente melhores. Quais os principais desafios à descarbonização da economia portuguesa, principal consumidora de energia? Os principais desafios à descarbonização da economia centram-se nos transportes e indústria, dado que são dois setores muito dependentes de combustíveis fósseis. No setor dos transportes, será necessária uma alteração profunda de um parque automóvel velho. Já no setor da indústria, ainda é precoce uma descarbonização total dos consumos, dada a necessidade de tecnologias disruptivas para a sua eletrificação. No entanto, podemos e devemos olhar para o setor dos edifícios, como um setor prioritário, dado que a sua eletrificação é possível, e onde Portugal tem um parque edificado envelhecido e não reabilitado, responsável por cerca de 32% da energia consumida em 2020. Para potenciar a descarbonização da economia portuguesa, e cumprir as metas de neutralidade carbónica, é necessário reforçar a eficiência energética em todos os setores, em especial no parque edificado, dando primazia à renovação profunda de edifícios públicos e residenciais. Esta aposta vai ajudar os consumidores vulneráveis, reduzindo os níveis de pobreza energética no nosso País. A descarbonização do setor dos transportes, através da promoção do uso da ferrovia (pessoas e bens), da eletrificação, do uso de biocombustíveis sustentáveis e hidrogénio verde, bem como da redução do uso de veículos particulares, é outro dos desafios que se colocam nos próximos anos. Portugal necessita ainda de uma maior flexibilidade do sistema elétrico, incluindo a implementação de redes inteligentes, enquanto deve incentivar a concorrência do mercado de eletricidade, removendo barreiras à entrada de novos intervenientes, facilitando a inovação e garantindo a integridade e segurança do mercado. Entendo que será ainda necessário acelerar a reforma fiscal verde, de modo a alinhar os impostos sobre a energia com os objetivos da descarbonização e garantir, assim, que o imposto sobre o carbono impulsiona as reduções de emissões em todos os setores. A ADENE está fortemente empenhada na descarbonização e apresenta-se como um agente agregador e catalisador da mudança para um sistema energético em que os consumidores informados e capacitados, devem ser agentes ativos no mercado. A ADENE destaca-se no apoio e na operacionalização de iniciativas como a Estratégia de “Para potenciar a descarbonização da economia portuguesa, e cumprir as metas de neutralidade carbónica, é necessário reforçar a eficiência energética em todos os setores, em especial no parque edificado”
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