ENTREVISTA 15 tações. Por todas estas razões, é fundamental que o setor seja ouvido e que sejam consideradas políticas tendentes ao seu crescimento e aumento de competitividade. Simultaneamente, queremos alinhar as necessidades dos associados com os programas de incentivos ao investimento. É determinante para a competitividade das nossas empresas acelerar os processos de digitalização bem como a transição energética que, no caso das nossas associadas, são processos complexos e altamente dispendiosos. A inovação é outra das nossas bandeiras. Queremos ser um agente promotor e mediador do esforço dos nossos associados neste aspeto, promovendo as experiências de inovação nas diversas vertentes da gestão da empresa. Só com uma forte aposta em I&D é possível responder aos desafios do nosso tempo. E, por fim, a internacionalização. O setor que representamos tem uma forte componente de exportação e de contacto com mercados, alguns mais evoluídos que o nosso. Para que esta componente cresça e se transforme, ainda é necessário percorrer um caminho importante. Pensamos que as associações setoriais têm um papel fundamental no apoio às empresas que optam por este desafio. Como se caracteriza atualmente o setor metalúrgico e eletromecânico nacional? O setor metalúrgico e eletromecânico português representa uma das principais atividades económicas do país, quer pela sua dimensão em termos do volume de negócios e emprego, quer pelo seu impacte no processo de modernização e desenvolvimento industrial, quer pelo seu caráter transversal no fornecimento dos mais diversos setores de atividade e pela forte contribuição para as exportações nacionais. O setor enquadra várias fileiras industriais de grande importância, desde as indústrias metalúrgicas de base, à fabricação de produtos metálicos, fabricação, reparação e manutenção de máquinas e equipamentos e fabricação de material de transporte. Tem um peso de cerca de 35% na indústria transformadora nacional, representa 23 mil empresas e emprega 246 mil trabalhadores. Em 2023, as exportações atingiram o valor de 25.029 milhões de euros, que corresponderam a 32% do total das exportações nacionais e representaram mais de 55% do volume de negócios do setor. Cerca de 75% das exportações destinam-se ao mercado europeu sendo de assinalar que, para Espanha, França e Alemanha, se exportam 60% dos produtos do setor. Quanto aos mercados não europeus, temos verificado uma tendência de diversificação, sendo de realçar a importância do peso das exportações para os Estados Unidos da América, Angola, Marrocos e Brasil. Que vantagens têm as empresas do setor em associarem-se à ANEME? Eu diria que a principal vantagem é a de poderem contar com uma entidade com quase 65 anos de atividade que os representa e defende os seus interesses junto de instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais. Neste contexto, fornecemos às empresas nossas associadas a necessária consultoria nas mais variadas áreas: laboral, jurídica, fiscal, da qualidade, licenciamento e ambiente. Por outro lado, definimos como missão estratégica desenvolver os esforços necessário para incrementar a competitividade do setor, aumentar o grau de qualificação dos seus recursos humanos, bem como o seu nível de internacionalização. Neste aspeto, há mais de 30 anos que temos vindo a promover ações nos quatro continentes. Muitas centenas de empresas do setor metalúrgico e eletromecânico escolheram, e continuam a preferir, o apoio da ANEME para abordar os mercados externos. Este traduz-se em iniciativas como missões empresariais, presença em feiras - há mais de 25 anos que participamos regularmente em feiras como a Midest, Hannover Messe, MetalMadrid, FACIM (Moçambique) e FIC (Cabo Verde) -; criação de entidades locais de apoio às empresas, em especial na área da formação; estabelecimento de protocolos e articulação com associações congéneres; bem como realização de estudos de mercado e de levantamento e caracterização das empresas industriais e comerciais. Assume ainda particular destaque a área da formação profissional, que tem sido uma das vertentes relevantes da nossa atividade. A ANEME é entidade fundadora e membro da Administração do Centro de Formação Profissional da Indústria Metalúrgica e Metalomecânica (CENFIM), centro de formação protocolar com 14 núcleos regionais, que tem prestado relevantes serviços ao setor e ao País. Além disso, integramos os dois únicos projetos tripartidos de cooperação portuguesa nesta área: o projeto do Centro de Formação da Metalomecânica de Maputo (Moçambique) e o Centro de Formação BudoBudo (São Tomé e Príncipe). Estes projetos, nos quais participam também o IEFP e a UGT, pela parte portuguesa, e as suas congéneres, pela parte Moçambicana e São-Tomense, contribuem para qualificar os trabalhadores desses países e apoiar as empresas no seu processo de deslocalização, perspetivando-se ainda a possibilidade da sua absorção pelo mercado interno, respondendo à forte carência de mão de obra no setor. Destaco também o apoio que temos vindo a dar aos nossos associados na transição energética e na digitalização, ambas mudanças sistémicas exigentes, que implicam alterações estruturais nos modelos de negócio e de fabrico.
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