ENTREVISTA 16 Realizámos vários projetos no âmbito do Compete 2020 que permitiram desenvolver um conjunto de ferramentas para apoiar o setor na construção de uma indústria mais sustentável e competitiva apostando na inovação, na descarbonização, na digitalização, na ecoeficiência e na circularidade. Atualmente, estamos a desenvolver um projeto apoiado pelo PRR para criação de um roteiro de descarbonização para o setor. Finalmente, importa referir que a ANEME integra a Federação Nacional do Metal (FENAME), que celebra o Contrato Coletivo do setor com vários Sindicatos representativos de trabalhadores do setor. Este CCT é o instrumento de regulamentação coletiva do setor aplicável no território nacional aos trabalhadores não sindicalizados e às empresas não inscritas em associações patronais, por força de Portaria de Extensão emitida pelo Ministério do Trabalho. Quais são os principais setores clientes dos vossos associados? Pelo seu caráter transversal, o setor é fornecedor dos mais diversos setores de atividade, da agricultura, à construção civil, indústria extrativa e transformadora (realçando o setor de automóvel) e dos grandes projetos de infraestruturas (comunicação, portuárias, ferroviárias, energéticas etc). A prolongada instabilidade no mercado automóvel está a afetar os vossos associados? Em que medida? De facto, a Indústria automóvel atravessa um cenário pouco entusiasmante e de grande instabilidade, que afeta todas as indústrias fornecedoras, com especial destaque para as empresas do nosso setor. Temos uma fileira importante de associados fornecedores de componentes para este segmento, com particular destaque para os fabricantes de moldes, que estão a atravessar uma situação de grandes dificuldades decorrentes da intensa quebra de encomendas já sentida em 2023. Esta preocupação já foi reportada pela direção da ANEME ao Ministro da Economia em 2023, no sentido de sensibilizar para a necessidade de apoiar esta fileira altamente exportadora, em termos de linhas de crédito e outros apoios, nomeadamente quanto à manutenção de postos de trabalho, de forma a mitigar os efeitos deste cenário de instabilidade que tem caracterizado este mercado. Em sentido contrário, assistimos a grandes investimentos no setor energético, principalmente em infraestruturas para a produção de energia “limpa”. As empresas portuguesas estão a beneficiar deste bom momento? Em parte, sim, embora muitos desses investimentos ainda demorem a sair do papel. Convém, no entanto, chamar a atenção para a verdadeira “invasão” de prestadores de serviços estrangeiros no nosso setor, nomeadamente de Espanha, que operam em condições mais competitivas do que as portuguesas. Neste segmento, quais são os principais destinos geográficos das exportações nacionais? No segmento de energia, os principais destinos das exportações portuguesas incluem países europeus como Espanha, França e Alemanha, além de mercados em crescimento na América Latina e especialmente em África, onde a procura por infraestrutura energética tem aumentado. A indústria metalomecânica portuguesa é reconhecida internacionalmente pela qualidade de fabrico. Esse fator ainda é suficiente para manter quota de mercado? É muito importante, para manter quotas, a imagem e a credibilidade que o setor construiu internacionalmente, mas para crescer no mercado é preciso investir em inovação, manter a estabilidade financeira das empresas e responder ao desafio da mão de obra. Em reposta à sua pergunta, o fator reconhecimento já não é suficiente para manter quotas de mercado. As atuais prioridades do setor colocam grandes exigências em termos de qualificação da mão de obra, de uso de tecnologias avançadas e de inovação, impondo-se como prioritárias, para além da qualidade, o nível de produtividade e a diferenciação e inovação das soluções. Impõe-se, assim, um crescente posicionamento no mercado internacional, através de uma oferta mais diferenciada, associada a produtos de elevado valor acrescentado. De realçar ainda a maior flexibilidade produtiva, time-to- -market e componente de serviços, que permita reforçar a customização da oferta, adaptando-a cada vez mais às especificidades do perfil de clientes e disponibilização no mercado de soluções e sistemas mais inovadores e complexos. Por último, importa destacar, como fator fundamental em termos de posicionamento internacional, a resposta
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