38 ESPECIALISTA EM... tempo, antecipando e minimizando potenciais riscos climáticos, e concorrendo, por esta via, para a segurança, fiabilidade, sustentabilidade e plena capacidade de gestão e exploração das infraestruturas geridas pela IP. A natureza das medidas de adaptação implementadas ou planeadas é muito variada e depende da avaliação do risco das infraestruturas em termos dos perigos climáticos mais críticos. Algumas medidas físicas são incorporadas logo em fase de projeto, designadamente, o dimensionamento de obras de arte especiais para cheias de período de retorno milenar e a estabilização, proteção e reperfilamento de taludes e encostas. Outras medidas surgem na fase de manutenção, como por exemplo, os contratos de manutenção/conservação corrente da rede rodoviária nacional, por distrito, que já requerem a implementação de medidas de adaptação, designadamente nas áreas mais vulneráveis aos perigos climáticos mais significativos. Que importância tem a colaboração com o setor privado, universidades e centros de investigação na promoção de soluções mais sustentáveis? A inovação aberta e a partilha de boas práticas é essencial. A IP tem vários exemplos de colaboração com o setor privado, universidades e centros de investigação no desenvolvimento de projetos de sustentabilidade e inovação. A empreitada de melhoria das acessibilidades à zona industrial de Riachos (ER243), que foi um projeto do Plano de Recuperação e Resiliência, é um bom exemplo desta colaboração. Tratou-se de um projeto executado em parceria com a Pragosa e a Universidade do Minho, no qual se utilizou um método inovador que consistiu na Reciclagem a Frio de Pavimentos Flexíveis com Betume-Espuma, utilizando uma central móvel. Esta solução conduziu à reutilização de todo o material fresado obtido na própria obra, reduzindo o consumo total de matérias-primas que seriam necessárias utilizar, reduzindo os materiais a depositar em vazadouro e as emissões de GEE associadas. Portanto, com menos transporte, sem necessidade de aquecimento e aproveitamento total do pavimento existente, esta solução provou ser mais ecológica, eficiente e alinhada com a economia circular e a descarbonização da construção. Nos últimos 10 anos, a IP participou em mais de 40 projetos de inovação cofinanciados por programas europeus, na área da conetividade e telecomunicações, sensorização e monitorização das infraestruturas e da mobilidade, informação e gestão de tráfego, gestão de ativos, ambiente, resiliência e energia, segurança e cibersegurança. Neste contexto a IP tem também o Programa dos 50 desafios de Inovação que constitui uma espécie de portefólio para o estabelecimento de parcerias, no qual se identificam as necessidades atuais e futuras na nossa atividade, nas quais a inovação pode ter um papel na implementação de soluções para suprir essas necessidades. O futuro da construção rodoviária em Portugal pode passar por estradas neutras em carbono? Quão perto estamos dessa meta? A neutralidade carbónica da construção rodoviária é um objetivo ambicioso, mas inevitável, que exige atuar em três frentes complementares: • Descarbonização dos materiais e processos construtivos, incluindo o transporte; • Eficiência energética e gestão inteligente das infraestruturas; • Captura e compensação de carbono. O desafio técnico é enorme: requer inovação, novas normas e critérios de contratação pública que integrem limiares máximos de emissões e valorizem materiais circulares e de baixo carbono. A redução da pegada de carbono de materiais como o betão e o aço é fundamental. Paralelamente, a digitalização e sensorização das infraestruturas e respetiva geração de dados a par da utilização de soluções de inteligência artificial conduzem a uma gestão preditiva e mais eficiente da infraestrutura, prolongando o seu ciclo de vida e evitando intervenções desnecessárias - o que também se traduz na redução da pegada carbónica da infraestrutura. O grande desafio está em olhar para todas as fases do ciclo de vida. A fase de operação representa cerca de 80% das emissões totais associadas a uma estrada, o que eleva o desafio para além da infraestrutura física, exigindo uma transição energética e tecnológica no modo como nos movemos. n
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