BO9 - EngeObras

7 EDITORIAL O setor da construção em Portugal está a enfrentar uma crise significativa devido à grave escassez de mão de obra. Este fenómeno, que não é exclusivo do nosso país, ameaça atrasar projetos cruciais, aumentar os custos e, em última análise, afetar o crescimento económico. A urgência de abordar esta questão é inegável e são necessárias ações imediatas e eficazes para inverter a situação. Esta escassez tem várias causas. Por um lado, a recuperação económica pós-crise revitalizou a procura de projetos imobiliários, mas a oferta de pessoal qualificado não cresceu ao mesmo ritmo. Além disso, a pandemia de Covid-19 agravou a situação, interrompendo a formação de novos profissionais e deslocando muitos trabalhadores para outros setores. Uma das principais dificuldades é a falta de atratividade para os jovens. A perceção de trabalhos difíceis e mal pagos afasta as novas gerações da construção. Além disso, os atuais programas de formação não estão alinhados com as necessidades reais do mercado, criando um desfasamento significativo entre a oferta e a procura de competências. Para enfrentar este desafio, é fundamental adotar uma abordagem multifacetada. Em primeiro lugar, é necessário melhorar as condições de trabalho no setor. O aumento dos salários e a oferta de benefícios adicionais podem tornar as carreiras na construção mais atrativas. Além disso, melhorar a segurança do emprego é fundamental para atrair e reter talento. Paralelamente, é necessário investir na formação e na educação. A criação de programas de formação técnica especializados e acessíveis poderia proporcionar aos jovens as competências necessárias para entrar no mercado de trabalho da construção. As empresas devem tamEscassez de mão de obra: um desafio urgente com possíveis soluções bém participar ativamente na formação dos seus futuros funcionários, através de programas de aprendizagem e de parcerias com instituições de ensino. A digitalização e a adoção de novas tecnologias podem também desempenhar um papel importante. A construção 4.0, que integra tecnologias como a automação, a inteligência artificial e a realidade aumentada, pode não só aumentar a eficiência, mas também atrair uma nova geração de trabalhadores que procuram empregos mais high-tech. Além disso, é essencial promover a inclusão e a diversidade no setor. O aumento da participação das mulheres e de pessoas de diferentes origens étnicas e culturas pode não só ajudar a atenuar a escassez de mão de obra, mas também enriquecer o setor com uma variedade de perspetivas e competências. Por último, a migração controlada e bem gerida pode ser uma solução a curto e médio prazo. Portugal deve considerar políticas de migração que facilitem a entrada de trabalhadores estrangeiros qualificados. É fundamental garantir que estes profissionais recebam um tratamento justo e condições de trabalho dignas, o que contribuirá para a sua integração e permanência no país. A crise laboral no setor da construção é um desafio complexo que exige uma resposta coordenada e multifacetada. Melhorar as condições de trabalho, investir na educação e na formação, promover a inovação tecnológica, fomentar a diversidade e gerir corretamente a migração são passos cruciais para ultrapassar esta situação. Com uma abordagem abrangente e colaborativa, podemos assegurar um futuro próspero para o setor e, consequentemente, para a nossa economia em geral.

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