BP8 - InterPlast
ENTREVISTA 21 No segundo eixo, posso destacar um projeto relacionado com a reciclagem química, denominado Demeteo, que tem por objetivo desenvolver um novo método, comple- mentar da reciclagemmecânica, para reciclar embalagens com algum grau de contaminação. Muitos ainda consideram que devia haver mais inte- ração entre as universidades e as empresas... Como vê a relação entre estes dois mundos? Estes consórcios em que participamos favorecem essa relação e é notório que nós trazemos à academia um sentido prático e uma visão de mercado que, por vezes, lhe faltam. Acho que a investigação será tão mais efetiva quanto mais próxima estiver do mercado. Naturalmente, não estou a falar da ciência pura, mas daquela que pre- tende levar inovação, em escala, do laboratório para o mundo real. Faz bem à academia passar mais tempo com as empresas e vice-versa. Começamos a assistir à criação de polos de know how, que envolvem empresas, centros de investigação e universidades, que acabam por se especializar em determinadas áreas, mas continua a ser necessário fomentar esta relação. Os biopolímeros podem vir a ser uma alterna- tiva viável, nomeadamente para a embalagem alimentar? Há algumas ‘buzzwords’ na nossa indústria que é neces- sário descodificar. Por exemplo, há uma diferença entre o que é reciclável e o que é reciclado, e, infelizmente ainda não existem standards para estas definições. Por exemplo, podemos dizer que uma embalagem produ- zida com cinco tipos de matérias-primas é reciclável e, de facto, é, mas é viável fazê-lo do ponto de vista técnico e económico? Não. Portanto, muitas vezes estamos a enganar as pessoas quando dizemos que uma emba- lagem é reciclável. Antes de o fazermos, deveríamos ver se já existe uma fileira de reciclagem dessa maté- ria-prima. E esse é um aspeto importante na utilização de biopolímeros. Nós somos a favor da utilização destes materiais, desde que exista uma fileira que os trate no fim de vida, o que, neste momento não acontece. Isto significa que muitos deles entram no fluxo de reciclagem do plástico tradicional e contaminam-no. Além disso, temos de analisar a sustentabilidade desses materiais. Não faz sentido deixarmos de produzir alimentos para produzir biopolímeros. Existe um futuro para a embalagem de bebidas que não envolva o plástico? Do que conheço, atualmente, não existe nada mais sus- tentável do que o plástico para fazer embalagens em escala. Desde que, naturalmente, coloquemos as garra- fas em fim de vida no sítio certo e as reciclemos. Esse é o ponto fulcrar. Como vê a introdução no mercado de bebidas de embalagens baseadas em papel, como anunciado pela Coca-Cola recentemente? Há um grande buzz à volta dessa notícia, mas esque- cem-se de dizer que a embalagem é 50% papel. Se for colocada no contentor amarelo, ou no azul, apenas vai poluir e não vai ser reciclada. Não é esse o caminho. Se no futuro conseguirmos fazer uma embalagem 100% em papel, essa pode ser uma solução. Mas, nesse caso, será necessário medir o impacto em termos de emissões de CO 2 e de consumo de água e energia de cada uma das fileiras e ver qual é a mais competitiva. Os próximos tempos adivinham-se difíceis para a economia nacional. Na sua opinião, que desafios aguardam a indústria de plásticos? O mundo espera que seja a fileira dos plásticos a encon- trar as respostas para os problemas ambientais. Esse será o nosso principal desafio: entregar soluções para um pla- neta sustentável. Neste cenário, o plástico continua a ter um futuro ainda muito promissor. Nós continuamos, todos os meses, a ganhar novos contratos de cinco ou dez anos, o que sig- nifica que os nossos clientes não planeiam abandonar o plástico em função de outros materiais. Portanto, o repto passa por encontrar as soluções para tornar o plástico verdadeiramente circular, à escala global. Se não for à escala global, não é uma solução. Finalmente, enquanto responsável pelomarketing de umamultinacional como a Logoplaste, que conselhos daria aos empresários do setor para enfrentar esta fase? Mais do que nunca, temos de nos focar na necessidade do cliente. Perceber bem o que ele quer. Podemos, hoje, ter uma fábrica montada para fazer um determinado produto, mas, se o cliente quer algo diferente, temos de nos adaptar. A área do marketing da Logoplaste é relati- vamente nova e tem por objetivo, justamente, melhorar a nossa aproximação e adaptação ao cliente. Os desafios estão aí. Alguns, como a legislação, são certos, mas outros, relacionados com o mercado, são incertos. Se estivermos perto do cliente, com disposição para o ouvir, facilmente conseguimos adaptar-nos e encontrar o produto que satisfaz as suas necessidades. Dou-lhe o exemplo da Logoplaste: uma fábrica que nós idealizamos hoje não tem nada a ver com o que fazíamos há cinco ou mesmo há três anos atrás. Todos os anos incorporamos know how e novas tecnologias. Numa simples máquina de injeção, hoje conseguimos controlar parâmetros que, há cinco anos atrás, eram pura ficção científica. A evolução é constante e isso abre-nos perspetivas completamente diferentes para o futuro. Estou muito otimista! n
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